sexta-feira, 20 de janeiro de 2017

Roupas novas

Por Mayanna Velame




O quarto está quase limpo. Chão encerado. Sapatos em seus devidos lugares. Na cama, o lençol bem esticado e alinhado. A janela aberta apresenta a suavidade de uma tarde ensolarada; repleta de nuvens brancas. Calmamente, o vento leva as folhas das mangueiras vizinhas. Para qual lugar elas seguirão?


Na passividade do dia, abro o guarda-roupa. Encontro algumas blusas, calças e bermudas nos cabides. Peças desbotadas pelo tempo; que já não se importam mais com meu corpo. Estão frouxas, largas, cheias de folgas na silhueta – ou, quando não, nos ombros.


Roupas são momentâneas em nossas vidas. Emagrecemos, engordamos, diminuímos, crescemos. Em dado momento, elas não nos servirão como antes. Serão vistas, apenas, como pedaços de pano. E retirar peças velhas do armário se faz necessário. Assim como determinadas lembranças, que nos remetem a erros e medos.


Mudar a vestimenta é tão relevante quanto mudar as atitudes. Usamos o mesmo par de sapatos, como ainda utilizamos nosso coração. Somos escravos de locais e recordações que nos magoam ferinamente.


A natureza se renova. Sendo assim, por que não seguimos seu exemplo? A cada ano que passa, sentimos e respiramos. Temos a chance de nos vestirmos com esperança, força e perseverança. Apesar dos tropeços inevitáveis, ninguém está imune à queda. Por isso, ame, chore, viva, jogue-se. Leia, cante, mude, inove...


Na passarela da vida, é preciso desfilar de cabeça erguida e jamais descer do salto. Afinal de contas, trajes novos, cheirosos e confortáveis nos deixam mais elegantes. Notáveis. Confiantes em nós mesmos.


O quarto está limpo agora. Da janela, observo o vento sacolejando os galhos das mangueiras. O varal oferece minhas roupas úmidas ao Sol.

Nenhum comentário :

Postar um comentário