domingo, 4 de outubro de 2020

Cor de mulher

Por Oswaldo Antônio Begiato




Vejo na corda,
trapézio entre as árvores
de minha infância sonhadora,
as peças de roupas coloridas
que tu, mulher,
entregavas ao poder do sol
para que ele as secasse
e ao poder do vento
para que ele as embalasse.


Sinto nelas o cheiro do
sabão em pedra que as lavou.
Porém, do sutiã e da calcinha limpos,
lembro-me do cheiro feliz de teu perfume.
Não o perfume artificial que usavas
nas horas de festa,
mas o perfume colorido
que teus seios e teu sexo espalhavam
pelas mãos da brisa outonal.


O perfume, fabricado dentro de ti
nas horas de cio,
revirava, nas minhas sombras,
o menino inextinguível
dentro do homem fragilizado
pela imaginação criadora.


Muitos ventos passaram por nós,
e o tempo vedou nossos poros.
Ontem cheguei a pensar não te amar mais;
por Deus, o que será que se passou
no meu coração?


Hoje vejo o quanto estou impregnado de ti,
de tuas cores imortais,
de teu perfume eterno
e o quanto estou impregnado de um amor
florescido entre damas da noite
com as quais se confundiu.


Onde será que eu estava com a cabeça?


Onde eu encontraria uma mulher
cujo sorriso
é da cor fresca do diamante,
o olhar da cor insolvível do ouro,
os passos da cor duradoura do horizonte
e a sombra que a segue da cor
do imensurável infinito?


Em que lugar do mundo
eu poderia encontrar
uma mulher tão colorida e
sem medidas como tu?


Em que lugar?


E tu nem sabes disso.
Ou fazes de conta que não sabe.

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