terça-feira, 6 de outubro de 2020

Minami

Por Denise Fernandes




Estava eu com cinco dias de vida. A janela abriu com o vento. Fazia muito frio. Com esse ar gelado, fiquei resfriada. Chorava muito. Não conseguia mamar com o nariz tapado. Foi quando a mãe da Minami, japonesa, que não falava português, ensinou minha mãe a colocar uma cebolinha aberta sobre o meu nariz. Pronto, alegria geral: minhas narinas voltaram a funcionar. Voltei a mamar. Minami foi uma boa amiga que passou pela vida da minha mãe e de mim.

Um dos aspectos mais interessantes de São Paulo é a mistura das culturas. Quanto mais trocas temos, mais interessante fica a vida. Navios que chegam, fronteiras que se partem. Sempre serei agradecida à convivência com japoneses e seus descendentes. Com esse sentimento de gratidão, recebi o texto de Hide Iizuka:

"Encarando de frente o Kasato Maru  O primeiro navio que trouxe os imigrantes japoneses para substituir os italianos nas plantações de café. Atracou no Porto de Santos em 1908, 20 anos depois da lei Áurea. Desembarcaram 165 famílias e começaram do zero, com uma enxada na mão. Com muita coragem, encararam tudo isso.

Comentei com um amigo jornalista que, na foto do navio Kasato Maru, símbolo da imigração, sempre aparece a parte de trás, a popa, e não vemos a parte da frente, a proa. Achei essa foto da embarcação no site do Senado Federal. Fiquei encantado com sua beleza e grandiosidade.

Japoneses chegaram com muitos sonhos e medos, atracaram no Porto de Santos, subiram a Serra do Mar de Maria Fumaça. Na triagem no Brás, assinaram seus nomes nos livros de registros, e seguiram para as fazendas de café. Sempre seguindo em frente, sem olhar para trás. Fiquei feliz em enxergar a frente do Kasato Maru. Tem muito glamour, alegria, esperança e força.

A maioria dos imigrantes tinham planos de voltar ao Japão (após pouparem algum dinheiro). É como na foto da popa. É como se o navio tivesse deixado todos ali e, um dia, voltasse para buscá-los... Sentimento dos meus avós paternos. Eram da província de Shimane e pretendiam, no futuro, retornar com a família ao Japão.

O sentimento de espera não existe mais. Estamos aqui, descendentes, com muito orgulho; encarando de frente a terra rica e maravilhosa, com diversas frutas para colher. Há terra para semear e começar tudo outra vez. Gratidão aos antepassados, por tudo isso".

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