domingo, 9 de setembro de 2012

Praça, Paulo e Prova

Por Érika Batista

  

Havia um lugar, num entroncamento de ruas, que chamavam de praça porque tinha um banco. Um só. Ele era gasto e cercado de erva daninha, que tampava as lajotas sob seus pés. O espaço era pequeno, uma parte de terra batida. Dois lampiões nas pontas e fim. À noite havia gente. 
 

Paulo veio pela rua da esquerda, olhando para trás de si. Não que pudesse enxergar algo com a pouca luz e sua miopia, mas o nervosismo constante em que vivia, especialmente quando fazia algo de cuja honestidade duvidava, obrigava-lhe a fazer isso. Veio tropeçando e quase tropeçou por cima do banco também, com suas pernas compridas. O “interlocutor” precisava chegar logo. 
 

E lá vem o homem. Está envolto em uma capa escura, que nem daqueles filmes. Paulo se arrepia. Ele não devia fazer isso, não devia mesmo. Mas todo um Ensino Médio de mesadas economizadas à toa... Gastar numa viagem, talvez? O que adiantaria se ele não passasse? As duas mãos do homem estavam estendidas para ele. Uma esperando o dinheiro. A outra trazia a prova roubada do ENEM. 
 

“Isso não é certo... Mas eu preciso, não estudei... e sofri tanto pra fraquejar justo agora?” Paulo lutava contra si mesmo, num pega-não-pega de que a mão trêmula participava, avançando e recuando alternadamente, hesitante. 
 

Paulo pegou. De repente a capa do homem caiu. Era um policial federal com uma arma na mão, surgida sabe-se lá de onde, e lhe dizia o fatídico: “Você está preso em nome da lei”. Então a prova crescia e engolia ambos. 
 

O rapaz sentou na cama, resfolegando, com a testa suada. Fora um pesadelo então. Não... O pesadelo viria no fim de semana, com aquela prova. 
 

– Filho, você viu? – a voz veio da sala, onde a mãe assistia o telejornal. – Roubaram a tua prova. Vai ser adiada, e sabe Deus pra quando! 
 

Paulo, ainda na cama, arregalou os olhos. Que raio de mistério era aquele...? Coincidência das mais arrepiantes. Ou sonambulismo? Talvez fosse apenas a praga de seus colegas que tinha pegado. Mas ele ia dar uma olhada naquela praça perto de casa, só por precaução.
 

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