Por
Érika Batista
Havia
um lugar, num entroncamento de ruas, que chamavam de praça porque tinha um
banco. Um só. Ele era gasto e cercado de erva daninha, que tampava as lajotas
sob seus pés. O espaço era pequeno, uma parte de terra batida. Dois lampiões
nas pontas e fim. À noite havia gente.
Paulo
veio pela rua da esquerda, olhando para trás de si. Não que pudesse enxergar
algo com a pouca luz e sua miopia, mas o nervosismo constante em que vivia,
especialmente quando fazia algo de cuja honestidade duvidava, obrigava-lhe a
fazer isso. Veio tropeçando e quase tropeçou por cima do banco também, com suas
pernas compridas. O “interlocutor” precisava chegar logo.
E
lá vem o homem. Está envolto em uma capa escura, que nem daqueles filmes. Paulo
se arrepia. Ele não devia fazer isso, não devia mesmo. Mas todo um Ensino Médio
de mesadas economizadas à toa... Gastar numa viagem, talvez? O que adiantaria
se ele não passasse? As duas mãos do homem estavam estendidas para ele. Uma
esperando o dinheiro. A outra trazia a prova roubada do ENEM.
“Isso
não é certo... Mas eu preciso, não estudei... e sofri tanto pra fraquejar justo
agora?” Paulo lutava contra si mesmo, num pega-não-pega de que a mão trêmula
participava, avançando e recuando alternadamente, hesitante.
Paulo pegou. De repente a capa do homem caiu. Era um policial federal com uma
arma na mão, surgida sabe-se lá de onde, e lhe dizia o fatídico: “Você está
preso em nome da lei”. Então a prova crescia e engolia ambos.
O
rapaz sentou na cama, resfolegando, com a testa suada. Fora um pesadelo então.
Não... O pesadelo viria no fim de semana, com aquela prova.
–
Filho, você viu? – a voz veio da sala, onde a mãe assistia o telejornal. –
Roubaram a tua prova. Vai ser adiada, e sabe Deus pra quando!
Paulo,
ainda na cama, arregalou os olhos. Que raio de mistério era aquele...?
Coincidência das mais arrepiantes. Ou sonambulismo? Talvez fosse apenas a praga
de seus colegas que tinha pegado. Mas ele ia dar uma olhada naquela praça perto
de casa, só por precaução.
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