Por Denise Fernandes
Se eu fosse prefeita, vocês veriam uma cidade maravilhosa. Mas logo
lembro da música do Raul (mamãe não quero ser prefeita, pode ser que eu seja
eleita e alguém vai querer me assassinar), e desisto logo do feito.
Tenho realmente ideias
maravilhosas, embora não tenha coragem para realizá-las. Não é a garoa de São
Paulo que me assusta, mas a repetição de uma história de violência.
Começando pelo
aspecto da violência em São Paulo: mudaria completamente o perfil da polícia.
Seriam contratados para policiais pessoas formadas em Filosofia, Ciências
Sociais, História, Medicina, Enfermagem, Fisioterapia, Psicologia, Educação.
Teriam salário de cinco mil reais e treinamento em artes marciais e tiro. Tipo
filme mesmo. Pessoas com uma vocação para heróis do bem. Bombeiros teriam o
mesmo salário. Os policiais de agora iriam, de alguma forma, ajudar a construir essa
nova história. Eles seriam ouvidos.
Continuando a "cidade
limpa", e com o apoio de todos os arquitetos, retiraríamos as inúteis
grades. Não as telas que impedem o pulo entusiasmado dos gatos ou das pequenas
crianças que imaginam ter super poderes de voo. Retiraríamos essas grades que
transformam os parques públicos num lugar que não é nosso, a piscina pública
ainda como lugar de exclusão, as grades e portarias de todos os prédios e
condomínios, as grades das escolas, as grades das prisões. Porque nós
precisamos aprender a lidar com a violência. Ao invés de esperar uma polícia e
uma segurança que não fazem nem bem para o imaginário da população, eu como
prefeita instalaria a coragem coletiva: meu coração prefere ser respeitado e
até temido do que viver assustado. Temendo o quê? O assaltante, o violento. Será
que não podemos ser menos violentos? Acho que poderíamos tentar ser sem
grades. Se a arquitetura diz a vida e a vida diz a arquitetura...
Priorizaria a limpeza dos
rios. Não ficaria discutindo com outros governos de quem é a
responsabilidade; mas lançaria toda a cidade no projeto de limpeza dos rios. Se
um negócio esquisito, dolorido, caro e, em certos casos, de gosto duvidoso pegou
e virou moda, as pessoas são capazes de tatuar até... Pode virar moda deixar
rio limpinho, cuidar dele, da rua, dos animais etc.
O trânsito é violento.
Libertaria a cidade num projeto envolvendo as cidades mais próximas da
dependência econômica das indústrias automobilísticas. Se os interesses do
café e da borracha foram deixados de lado, em outros períodos, poderíamos
repensar as questões dos carros como propriedades privadas: realmente está bom
da forma que está? As pessoas estão felizes com tanto trânsito e violência no
trânsito?
Também compraria o casarão
tombado da Avenida Paulista, 1919, e moraria ali. Cuidando da casa, recebendo
gente do meu círculo, gravando as cenas da minha propaganda e
discursos ali; transformando-a numa referência para São Paulo e permitindo que
eu investisse o meu dinheiro em algo útil para a cidade.
Criaria, no máximo, uma
administração participativa e iria sugerir a possibilidade do trabalho se
organizar de outra forma, sem que todo mundo tenha que ficar andando de lá
para cá no trânsito. Tempo precioso,
necessário para atividades mais úteis, para si mesmo e para todos.
Sem grades e com outra
polícia, acho que a cidade inteira conseguiria pensar melhor, agir melhor,
sentir melhor.
Eu também continuaria indo
de bairro em bairro durante meu mandato, como teria feito no período de campanha.
Também conversaria com eleitores de fato e não só para fazer cena para a
câmera. Não iria a inaugurações e outras frescuras. Situações de bajulação e de
aplauso forçado não fazem bem para o ego, para o desenvolvimento de qualquer
cidadão. Como prefeita, eu tentaria ser um exemplo de doçura e sabedoria, de
prontidão e dedicação.
Começaria a divulgar os
dados de suicídio da cidade e discutir porque algumas pessoas estão querendo
morrer na nossa cidade; não deixando a responsabilidade desse pensamento para
as famílias (como se elas fossem culpadas por essa sociedade escrota em que
estamos vivendo, que culpabiliza o indivíduo, o enfraquece e o imobiliza).
Coletivamente temos construído esse estado de tirania e medo, em que temos
sidos tiranos muitas vezes de nós mesmos, aceitando o insustentável. Não a
insustentável leveza do ser, mas a realidade caótica de uma cidade.
Tem mais propostas, mas
deixa para outra crônica...
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