Por Denise
Fernandes
Começa o horário eleitoral e minha
mente fica suja, um horror... O que eu penso de bobagem nessa época é
impressionante! Vejo como um período de queda mental na minha vida, bem pior
que inferno astral. Toca aquela musiquinha do Emael, um democrata cristão, para
prefeito em 15 de novembro. É Emael ou Eymael, sei lá, o candidato da
renovação, e a música continua. Se eu acionar a chave, só muda para o tchu-tcha ou
algum Roberto Carlos... Será que algum dia vou esquecer o nome do Neymar? Será
que o Alzheimer me levará essas lembranças ou vai tocar esse som na
minha memória para sempre? E tem tanta coisa que já esqueci e que não consigo recordar. Aí penso no filme "Brilho Eterno de uma Mente sem
Lembranças", que não lembro direito e não consigo esquecer. Quero
ver de novo, mas não recordo de pegá-lo quando chego na locadora. Aí lembro que, relendo a carta de amor, beijei um beijo
que esqueci. E que minha amiga disse chorando que só homem esquece beijo.
Freud, Freud explica tudo.
Quando me sinto perdida no consultório,
imagino como Freud ou Jung agiriam. Inspirada pelos mestres, vou no meu
delírio bom. Estou no ombro do mundo e o mundo é bom. Depois toca também no
período eleitoral: "enquanto vocês prometem, vou fazer cocô". Garotos Podres, a banda. O passado. Porque fico com raiva do Collor
ainda. Sempre me sinto politicamente enganada. É sempre a sensação de estar
perdida no espaço. Aí me recordo de "Perdidos no Espaço". Dr. Smith me
acalma e eu lembro do medo dele, que também sinto. Relembro do episódio que uma
voz de mulher chamava, cantando: Dr. Smith... E minha frustração de nunca ter
tido um robôzinho. Ainda estou aqui na Terra e nunca tive um robô legal, para
me ajudar, falando "Perigo!", "Perigo!". E me lembrando do
que eu esqueci. Enquanto vocês prometem, vou fazer cocô. Enquanto vocês
prometem, vou fazer cocô. Tenho um disco riscado que não vou jogar fora e a
carta onde o beijo escrito escafedeu-se do meu cérebro. Tive um pesadelo com o
Sarney e a filha: eles aparecem como clã no meu inconsciente. Nossa, e como
estou ficando velha! Tem gente que lerá essa crônica e provavelmente nunca
viu "Perdidos no Espaço".
E é tão estranho porque tem horas que
parece que não fiquei velha ainda... Entre os parafusos que caíram da minha
cabeça, e os que eu mesma resolvi jogar fora, há uma alegria esquisita, uma
vontade de rir muito, de brincar, de esperar meu robôzinho que não chega. Freud
explica e entende tudo isso.
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