Por Rosimeire Soares
Em época de eleição devemos ficar atentos a tudo.
Cada pequeno detalhe deve ser analisado com cuidado. Como, por exemplo, o sorriso dos
candidatos. Já parou para analisar o
riso dos candidatos nos "santinhos" de propaganda política? Os
candidatos movimentam capciosamente toda a musculatura facial e esbanjam um
sorriso tão carismático que o eleitor desavisado enxerga, nele, alguém de casa,
um amigo, alguém bem próximo, um verdadeiro compadre ou comadre. Há,
obviamente, uma equipe muito grande de assessores e “marqueteiros” prontos para
“vender” a imagem dos candidatos. Desde a densidade do riso, ausência de
sorriso, altura do queixo, gesto com a mão, viés do olhar, postura do ombro,
tudo constrói a imagem do candidato para representar seu município. Existem
exceções, naturalmente, pois há candidatos que quando chegam a sorrir num
“santinho” já trabalhou muito pela sociedade e por isso mesmo não precisa
passar uma imagem. Ele já é a imagem. Boa imagem.
Não se destaca aqui o relacionamento interpessoal
dos candidatos, mas o riso dos santinhos, porque pessoalmente esses
indivíduos não conseguem manter 100% da hipocrisia o tempo todo. Por isso, às
vezes, o sorriso fica até meio amarelado. Há também, nos panfletos, risos
que realmente são de alegria. Esses são tão expressivos que até o cidadão mais
leigo consegue identificá-los nitidamente. É como se o sorriso verdadeiro,
mesmo numa foto, falasse por si só.
Mas o interessante (ou nem tanto) é que risos
não são apenas para demonstrar alegria. Sorrisos humilham, maltratam, ironizam,
ignoram e até revelam engodo e falácias, se observar com atenção. Eles
ludibriam, passam as mais diversas sensações, como confiança, espontaneidade,
honestidade... Honestidade?! A confiabilidade, às vezes percebida em um
candidato, através do riso, pode ser uma manobra sórdida, porque ele
(candidato) tem certeza do voto do eleitor, mas este nunca pode ter ínfima
certeza do retorno desse possível representante do cidadão.
Há também, dentre os sorrisos candidatos ao voto
de confiança do eleitor, o sorriso autoritário: “Você não tem outra
alternativa”. Há o sorriso carente de compaixão: “Preciso organizar minha vida
financeira, preciso ajudar meus parentes”. Há o sorriso maquiavélico: “Idiota,
é óbvio que vai votar em mim, mas não conte comigo”. Há o sorriso amável:
“Claro que pode confiar em mim. Honrarei o seu voto”. Há o sorriso da
incerteza: “Vou tentar ser honesto com meu eleitor, mas, se não der certo, farei
o que todos fazem, isto é, vou levar vantagem”. Escasso mesmo é o sorriso
voluntário.
Diante disso, algo me intriga: se o cargo
político não fosse remunerado (muito bem remunerado), como seria riso dos
candidatos?
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