Por Denise Fernandes
Uma pessoa que gosto muito
me perguntou outro dia o segredo da minha "boa forma". Claro que ele
não se referia às minhas inúmeras varizes, celulites, barriga, cabelos
grisalhos rebeldes e roupa descombinada. Referia-se ao fato de aparentemente eu
não engordar muito.
Acabei explicando que me
dedico à caminhada urbana, entre outras coisas. Ele me perguntou como e a
questão perdeu-se no ar, em meio a tantos outros assuntos que ocupavam nossos
pensamentos.
Liguei a televisão no
mesmo dia e tentei ver os programas novos que a tevê apresentava para saber o
que estava acontecendo no mundo. Uma verdadeira obsessão sobre a boa forma se
apresentou aos meus olhos. E eu olhando a tevê e achando tudo feio.
Sempre gostei de um poema do Murilo Mendes que dizia que a alma tem a forma do corpo ou o corpo tem a forma da alma, não consigo lembrar ao certo. Agora não acho mais o poema, nem na internet. Mas achei outro do Murilo Mendes, ótimo, também a respeito do corpo, de certa forma. Chama-se A Tentação: “Diante do crucifixo, Eu paro pálido, tremendo. ‘Já que és o Verdadeiro Filho de Deus, desprega a humanidade desta cruz’”.
Me fez lembrar uma meditação que fiz e que ajudou significativamente na recuperação de uma dor nas costas deveras estranha que tive. Essa meditação consiste em você deitar-se no chão e imaginar-se como Cristo na cruz, se posicionando de acordo. Fiz duas ou três vezes. Chorei muito. Perdoei muito. Nunca mais fiz. Confesso que tenho medo. Nunca mais tive aquele tipo de dor. Era uma dor forte, na base da coluna, como se a minha vida tivesse dado um nó no meu corpo. Me sentia amarrada mesmo. Como se eu não pudesse mais, com meu corpo, carregar a minha cruz. Por isso fiz a tal meditação quando li sobre ela, estando com a bendita dor. Porque, com certeza, não existe lugar mais sagrado que nosso próprio corpo, presença de todo o mistério. Com seu corpo você me lê. Com meu corpo te amo. Toda forma é boa.
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