domingo, 19 de agosto de 2012

Faixa de Pedestres

Por Érika Batista



Fiquei feliz em constatar hoje que ainda há – nos imensos formigueiros que são nossas pólis – pequenos refúgios para os idealistas que acreditam na natural benevolência humana: as faixas de pedestres.

Há alguns dias, uma velhinha que eu nunca tinha visto chamou minha atenção para o fato de minha mochila estar aberta. Eu estava sobre uma dessas faixas mencionadas. Já havia percorrido várias ruas, provavelmente com a mochila escancarada, mas só ali, enquanto esperava o sinal abrir, encontrei solidariedade. Notável.

Em uma outra ocasião, o semáforo ficou verde antes do esperado e eu compartilhei com uma senhora o medo de ser atropelada, a aventura de fugir dos carros, o alívio por ter escapado deles e a raiva dos motoristas apressadinhos e sem respeito e etc., etc., etc..

Hoje mais duas situações vieram provar minha teoria. A primeira na hora do rush – todos voltando pro trabalho ou indo para a escola. Eu estava querendo atravessar um perigoso cruzamento. Num breve intervalo durante a passagem frenética dos automóveis, um senhor que estava ao meu lado perguntou:

– Vamos?

Tomando coragem, cruzamos a estrada com passos sincronizados, sentindo o ventinho do veículo que passou atrás de nós. Eu não conheço o tal homem e nem seria capaz de reconhecê-lo se o visse novamente.

Por fim, quase 17 horas, eu voltava de onde tinha ido, pelo mesmo caminho. Mas foi numa outra avenida perigosa que o último fato aconteceu. Novamente sobre uma faixa de pedestres, eu e uma mulher esperávamos pacientemente que a passagem fosse liberada, enquanto algumas outras pessoas arriscavam-se correndo na frente dos carros. A mulher, repentinamente, começou a falar do que víamos. Como os transeuntes podiam reclamar do descaso dos motoristas? Que horas seriam? Porque ela tinha n coisas para fazer, correr de cá pra lá... O desabafo durou poucos segundos, mas foi tão inesperado que eu não resisti ao impulso de registrar esses eventos.

Quem dera o mundo fosse uma grande faixa de pedestres, com pessoas correndo pra cá e pra lá! Não precisamos ir a outra galáxia para encontrar uma civilização mais avançada, basta correr até a avenida mais próxima. Sobre uma faixa de pedestres qualquer um pode apreciar um momento de solidariedade, companheirismo, confidências desinteressadas... a vida livre de preconceitos! Momento este que, embora efêmero, vale para ganhar o dia.

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