Por Érika
Batista
Fiquei feliz
em constatar hoje que ainda há – nos imensos formigueiros que são nossas pólis – pequenos refúgios para os idealistas que acreditam na natural benevolência
humana: as faixas de pedestres.
Há alguns
dias, uma velhinha que eu nunca tinha visto chamou minha atenção para o fato de
minha mochila estar aberta. Eu estava sobre uma dessas faixas mencionadas. Já
havia percorrido várias ruas, provavelmente com a mochila escancarada, mas só
ali, enquanto esperava o sinal abrir, encontrei solidariedade. Notável.
Em uma outra
ocasião, o semáforo ficou verde antes do esperado e eu compartilhei com uma
senhora o medo de ser atropelada, a aventura de fugir dos carros, o alívio por
ter escapado deles e a raiva dos motoristas apressadinhos e sem respeito e
etc., etc., etc..
Hoje mais duas
situações vieram provar minha teoria. A primeira na hora do rush – todos
voltando pro trabalho ou indo para a escola. Eu estava querendo atravessar um
perigoso cruzamento. Num breve intervalo durante a passagem frenética dos
automóveis, um senhor que estava ao meu lado perguntou:
– Vamos?
Tomando
coragem, cruzamos a estrada com passos sincronizados, sentindo o ventinho do
veículo que passou atrás de nós. Eu não conheço o tal homem e nem seria capaz
de reconhecê-lo se o visse novamente.
Por fim, quase
17 horas, eu voltava de onde tinha ido, pelo mesmo caminho. Mas foi numa outra
avenida perigosa que o último fato aconteceu. Novamente sobre uma faixa de
pedestres, eu e uma mulher esperávamos pacientemente que a passagem fosse
liberada, enquanto algumas outras pessoas arriscavam-se correndo na frente dos
carros. A mulher, repentinamente, começou a falar do que víamos. Como os
transeuntes podiam reclamar do descaso dos motoristas? Que horas seriam?
Porque ela tinha n coisas para fazer,
correr de cá pra lá... O desabafo durou poucos segundos, mas foi tão inesperado
que eu não resisti ao impulso de registrar esses eventos.
Quem dera o
mundo fosse uma grande faixa de pedestres, com pessoas correndo pra cá e pra
lá! Não precisamos ir a outra galáxia para encontrar uma civilização mais
avançada, basta correr até a avenida mais próxima. Sobre uma faixa de pedestres
qualquer um pode apreciar um momento de solidariedade, companheirismo,
confidências desinteressadas... a vida livre de preconceitos! Momento este que,
embora efêmero, vale para ganhar o dia.
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