Por Rayane Medeiros
Para
minha mãe
Eu
poderia lhe presentear –
Se assim fosse possível,
Com toda
riqueza deste mundo e,
Ainda assim,
Meu débito jamais seria pago –
As noites
em claro quando a doença chegava indesejada;
O compromisso em me ver alfabetizada;
O incessante limpar de chão alheio para a comida
não faltar.
Nada, absolutamente nada disso,
Poderia ser pago...
Poderia
cobrir sua vida de conforto
E
prazeres que lhe foram privados
Pelo
dinheiro sempre curto
E, ainda
assim,
Os calos continuariam marcados em suas mãos;
O suor do trabalho árduo eternizado em suas costas
doídas e cansadas.
Eu poderia dar à sua vida – a toda ela,
Aquela folga tão sonhada que suas obrigações nunca
lhe permitiram ter
E, mesmo assim,
Minha dívida continuaria –
Eu não pagaria a sua obrigação extra,
Em tê-la sido pai,
Quando a ausência sempre o manteve símbolo.
E você o foi como nenhum outro jamais seria.
Eu
poderia te dar a vida que tanto merece e o destino poderia ter-lhe concedido,
Mas seria eternamente devedora –
Suas rugas em volta dos olhos e os cabelos brancos
que avançam com a idade,
Continuariam me encarando,
Apontando-me pelas falhas que eu poderia ter
evitado;
Pelos constrangimentos que me pesam num martírio;
Pelo grande orgulho que eu deveria ser,
Mas peco continuamente como ser humano.
Eu poderia te dar a minha própria vida para me
redimir
Do peso que lhe tenho feito carregar,
Porém, morreria endividada.
Então, ofereço, humildemente,
As minhas
mais sinceras desculpas.
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