terça-feira, 21 de agosto de 2012

Gatos, Estereótipos e Outros Bichos

Por Denise Fernandes   



        Agora faz um tempo que a Messy chegou em casa. Comecei a pensar – e a questionar – várias matérias de especialistas sobre animais, que vi em revistas e na televisão. A memória dos desenhos animados me ajuda a compreender a situação.

    Pelo que entendi das matérias desses "especialistas", um animal doméstico precisa de um dono até o fim. A ideia deles é maior que casamento: quando você pega um animal de estimação, não tem divórcio que separe. E se separar é muito ruim para o animal. Sou a terceira dona da gatinha que está aqui em casa. Parece que ela está muito feliz. Essa é a terceira casa da Messy e já ouvi, de vários "especialistas", que gatos são muito apegados a casa. Só que eles esqueceram de contar isso para a gatinha que tem personalidade aventureira e amorosa. Em pouco tempo, ela parece amar tudo, acho que gosta de provocar a cachorra, e me segue como se me amasse.

        Entendendo melhor a amplitude do conhecimento dos "especialistas", resolvi assistir uma reportagem com uma especialista sobre vestimenta masculina (e como devem se vestir os homens). Descobri através da matéria que funciono como um homem; e não é a primeira vez que isso acontece: a Rede Globo me interpreta como homem.

        Também li uma instrutiva reportagem sobre como lidar com a traição pública. Mesmo que eu ainda não seja uma figura "pública", achei melhor entender como uma "especialista" me aconselha a lidar com a situação, que costuma acontecer nas melhores famílias, circunstâncias e histórias de amor. Mas não avancei na matéria. Já pensou piorar minha situação passada e achar nomes novos para dores antigas? Enquanto me ensinam a amar da forma certa, suspiro de tédio e de amor pela gatinha. Ela não é só minha e isso só a enriquece. Enriquece minha vida também. Achei linda a imagem criada por uma música que é tocada por várias pessoas num violão só.

        Talvez seguindo os conselhos de como um homem deve se vestir, eu melhore meu "estilo" como mulher. Mas acho que quando for uma pessoa "pública", vou criar minha forma de lidar com a traição sofrida, mesmo que o retrato em branco e preto seja conhecido de todos. Vou compor minha própria bossa nova. Quantos medos e culpas imaginárias vamos construindo com a ajuda de especialistas, que nos dizem como viver? Quantos abismos não deixam de ser preenchidos por almas que se encolhem? Comi a sobremesa antes do almoço a semana inteira e mal não fez. Nem engordar eu engordei. Pensei em sexo dentro da Igreja e nada de ruim aconteceu. Passei debaixo da escada tantas vezes, passei e despassei, fiz de conta que era trabalhadora da escada, trapezista do asfalto. Minha sorte achei no meu umbigo.

         Agora me deu vontade de ir ao zoológico de novo. Ver outros bichos. Eles devem estar lá, suportando os especialistas...

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