Por Denise Fernandes
Agora faz um tempo que a Messy chegou
em casa. Comecei a pensar – e a questionar – várias matérias de especialistas
sobre animais, que vi em revistas e na televisão. A memória dos desenhos
animados me ajuda a compreender a situação.
Pelo que entendi das matérias desses
"especialistas", um animal doméstico precisa de um dono até o fim. A
ideia deles é maior que casamento: quando você pega um animal de estimação, não
tem divórcio que separe. E se separar é muito ruim para o animal. Sou a
terceira dona da gatinha que está aqui em casa. Parece que ela está muito
feliz. Essa é a terceira casa da Messy e já ouvi, de vários
"especialistas", que gatos são muito apegados a casa. Só que eles
esqueceram de contar isso para a gatinha que tem personalidade aventureira e
amorosa. Em pouco tempo, ela parece amar tudo, acho que gosta de provocar a
cachorra, e me segue como se me amasse.
Entendendo melhor a amplitude do
conhecimento dos "especialistas", resolvi assistir uma reportagem com
uma especialista sobre vestimenta masculina (e como devem se vestir os homens).
Descobri através da matéria que funciono como um homem; e não é a primeira vez
que isso acontece: a Rede Globo me interpreta como homem.
Também li uma instrutiva reportagem
sobre como lidar com a traição pública. Mesmo que eu ainda não seja uma figura
"pública", achei melhor entender como uma "especialista" me
aconselha a lidar com a situação, que costuma acontecer nas melhores famílias,
circunstâncias e histórias de amor. Mas não avancei na matéria. Já pensou
piorar minha situação passada e achar nomes novos para dores antigas? Enquanto
me ensinam a amar da forma certa, suspiro de tédio e de amor pela gatinha. Ela
não é só minha e isso só a enriquece. Enriquece minha vida também. Achei linda
a imagem criada por uma música que é tocada por várias pessoas num violão só.
Talvez seguindo os conselhos de como um
homem deve se vestir, eu melhore meu "estilo" como mulher. Mas acho
que quando for uma pessoa "pública", vou criar minha forma de lidar
com a traição sofrida, mesmo que o retrato em branco e preto seja conhecido de
todos. Vou compor minha própria bossa nova. Quantos medos e culpas imaginárias
vamos construindo com a ajuda de especialistas, que nos dizem como viver? Quantos
abismos não deixam de ser preenchidos por almas que se encolhem? Comi a
sobremesa antes do almoço a semana inteira e mal não fez. Nem engordar eu engordei.
Pensei em sexo dentro da Igreja e nada de ruim aconteceu. Passei debaixo da
escada tantas vezes, passei e despassei, fiz de conta que era trabalhadora da
escada, trapezista do asfalto. Minha sorte achei no meu umbigo.
Agora me deu vontade de ir ao zoológico
de novo. Ver outros bichos. Eles devem estar lá, suportando os especialistas...
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