Por Rayane Medeiros
Aquela tensão em esperar, vigiar os ponteiros do
relógio para que eles não trapaceiem, enquanto a distração vez e outra se
atenta para flertar com a rua – os carros que passam, as pessoas que se atropelam, o vento varrendo o dia que ficou nas calçadas. Aquela tensão em
mastigar o vazio do tempo que não quer correr, que não quer partir e deixar-me
em outros braços.
Aquele medo de encontrar-se com o Nunca Mais, com o
rumo que a vida leva, e nos leva, involuntariamente... Medo de passar as mãos
pela cama, e não encontrar o calor de uma pele que não a minha. Medo de não
mais partilhar de risos e sussurros fora de hora, fora de eixo, fora de
qualquer sentido racional.
Aquela velha angústia no aguardo que nunca finda –
correr a vista pela casa, tatear a ausência, a escuridão que entra pelas
frestas, como ratos famintos numa fome insana. Aquela angústia em suportar o
encarar incessante das paredes que nunca falam, mas ouvem, sempre ouvem e muito
atentas.
Aquela ânsia em devorar o incerto, o silêncio que
não cala, as lembranças quase insustentáveis... Ânsia em corromper-me em teus
beijos, impregnar-me com teu cheiro, embrenhar-me em teu pêlo, em teu selo, em
teu corpo em ebulição. Ânsia em devorar-te, sem mais.
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