Por Denise Fernandes
Deu no teste da revista
que fiz, sou uma "boa ex". Já desconfiava. Não tinha teste na revista
sobre ter sido uma boa esposa, mas talvez o resultado não fosse positivo. Como
ex me esforcei para ser o melhor possível, o mais desapegada possível. Como
esposa nem sempre me esforcei porque nem sempre entendi o que fazer com tantos
sentimentos. Como esposa fui amante, amiga e já era muito. Como esposa eu não soube
o que era ser esposa. Mesmo cuidando da roupa do marido, de suas comidas
prediletas, eu estava num namoro. Lembro do dia que resolvi aprender a fazer
café, já tinha uns meses de casada. Tudo era aprendizado nesse tempo.
Quando me separei, meu
ex-marido me procurava dizendo estar com saudade do meu café. Eu passava um
café e conversávamos. O café não nos levava para nenhum outro lugar. O prazer
do café é singular e nele mesmo, a ponte do café é para dentro de si, o café é
uma droga do interior. Depois houve um tempo em que precisamos nos separar
desse café também.
Já imagino alguns amigos juntos
a uma xícara de café. Ou lembro com carinho de amigos que me oferecem café
mesmo não gostando da bebida.
O cheiro do café
inaugurando a manhã, meu primeiro café que é de bom dia. Café como existência,
bebo logo existo e coexisto. Tomar café me ajudou a ser adulta, a equilibrar o
fardo transparente e tão pesado. Só o café me ajuda a pensar, pois na Cidade
tudo nega o pensamento, pesados são os fatos. Só o café me liga à felicidade da
rotina. O resto em mim pede mudanças. E o outro resto é Mudança.
Aprendi a gostar do café quando ainda era criança, senti o aroma de um café de roça servido com mandioca. Tudo plantado e preparado ali mesmo! É divino! O processo de preparo que une pessoas num longo trabalho para colher o fruto do prazer proporcionado não existe mais. É o que Mario Sergio Cortella descreve como 'Despamonhalização da vida'.
ResponderExcluirTalvez se a vida não estivesse tão prática seu texto não teria a questão de 'ex' a mencionar.
Sobre o café, sempre estará cercado desse ritual que promove encontro consigo e com os outros. Adorei o texto!