terça-feira, 16 de abril de 2013

Floresta

Por Denise Fernandes

 

         Sou uma floresta tropical cheia de serpentes. Há pessoas que são paisagens mais serenas; pessoas que são montanhas de gelo e outras, pura areia do deserto. Já eu sinto essa umidade, essa complexidade de verdes e de serpentes, essa miscelânea de espécies indo para lugar nenhum: sou esse espaço onde rio e mato ficam em comunicação constante. Os bichos fazem uma orquestra diferente. Não tem dia parado na floresta. Há pessoas que são mais calmas, praias de porto, montanha de pedra; algumas pessoas têm mais silêncio. Eu que sou floresta sou possuída por todos os sons; meu silêncio escondido parece uma lembrança. Só há medo porque há passado, tanta força se coloca na floresta.
 
          Há pessoas que são paisagens de caminhos, pessoas que são estradas e outras até pontes. Há pessoas que são ilhas; e nos fazem sofrer com a saudade que provocam. Há pessoas que são filhas da Lua. E porque há tantos contornos diferentes para o ser, tantas formas de dizer o que se é, o encanto da verdade é de uma tão intensa multiplicidade que eu me perderia em tentar saber. Mais sinto a todos do que entendo meus semelhantes.
 
         Há pessoas que são como rios e outras cachoeiras. Há pessoas que são pomar e jardim, outras são casas. Há intenção e movimento em todos os seres, mas o quê, o que estamos fazendo aqui? Há um sentimento em comum? Ou estamos perdidos no aleatório? Eu que sou floresta sou pássaro e flor, estou sobre o sentimento do mundo que é único. Um mar organizado coordena o aleatório que respinga aqui e ali. Há pessoas que são deserto, outras dunas, há pessoas que são puro vento e outras furacão, há pessoas que são neve e outras chuva fina, chuva forte, há pessoas que são intensamente pessoas. Quando as pessoas são tão intensamente pessoas, elas são também paisagens, verde, Vida.

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