Por Denise Fernandes
Sou uma floresta tropical
cheia de serpentes. Há pessoas que são paisagens mais serenas; pessoas que são
montanhas de gelo e outras, pura areia do deserto. Já eu sinto essa umidade,
essa complexidade de verdes e de serpentes, essa miscelânea de espécies indo
para lugar nenhum: sou esse espaço onde rio e mato ficam em comunicação
constante. Os bichos fazem uma orquestra diferente. Não tem dia parado na
floresta. Há pessoas que são mais calmas, praias de porto, montanha de pedra;
algumas pessoas têm mais silêncio. Eu que sou floresta sou possuída por todos
os sons; meu silêncio escondido parece uma lembrança. Só há medo porque há
passado, tanta força se coloca na floresta.
Há pessoas que são paisagens de caminhos,
pessoas que são estradas e outras até pontes. Há pessoas que são ilhas; e nos
fazem sofrer com a saudade que provocam. Há pessoas que são filhas da Lua. E
porque há tantos contornos diferentes para o ser, tantas formas de dizer o que se
é, o encanto da verdade é de uma tão intensa multiplicidade que eu me perderia
em tentar saber. Mais sinto a todos do que entendo meus semelhantes.
Há
pessoas que são como rios e outras cachoeiras. Há pessoas que são pomar e
jardim, outras são casas. Há intenção e movimento em todos os seres, mas o quê,
o que estamos fazendo aqui? Há um sentimento em comum? Ou estamos perdidos no
aleatório? Eu que sou floresta sou pássaro e flor, estou sobre o sentimento do
mundo que é único. Um mar organizado coordena o aleatório que respinga aqui e
ali. Há pessoas que são deserto, outras dunas, há pessoas que são puro vento e
outras furacão, há pessoas que são neve e outras chuva fina, chuva forte, há
pessoas que são intensamente pessoas. Quando as pessoas são tão intensamente
pessoas, elas são também paisagens, verde, Vida.
Nenhum comentário :
Postar um comentário