terça-feira, 2 de abril de 2013

Boba

Por Denise Fernandes



 Revendo as fotos que fiz com meu celular, achei uma onde estou com cara de boba. Não tem como dar jeito numa cara de boba. A foto revela a verdade. Seria bom fugir do próprio retrato. Ser boba não é agradável. Pessoas bobas como eu correm mais risco, de tanta bobeira. O mundo é mais perigoso para os bobos.
 Pessoas bobas não têm controle das coisas; se tivessem, não seriam bobas. Elas são um pouco levadas pela Vida. As pessoas bobas acreditam nos outros, em pequenos milagres, na era de Aquário. As pessoas bobas se sentem bem no circo, no zoológico.
 Logo na infância, tomei consciência do fato de que era boba: pintei o pintinho que ganhei de preto e ele morreu para meu susto, cortei o cabelo das minhas bonecas pensando que iam crescer melhor. Minha mãe reclamava: como você é boba, minha filha!
Ser boba é um pecado pequeno, menor, diante de toda a maldade. Ser boba até pode ser bom para quem manda: o bobo é café com leite. Um a menos para reivindicar e para conseguir. Uma pessoa boba não ameaça ninguém. E não sei de que forma isso se escreve na face, mas lá na foto estou eu com minha cara de boba. Me sinto de certa forma nua com essa cara de boba explícita na foto. Eu adoraria muitos véus. Se pudesse, me transformaria numa tartaruga e ficaria fechadinha no casco um tempo.
 O jornal da televisão irrita os bobos. O cinema salva os bobos: em todo filme tem um bobo legal, que não é vilão nem mocinho.
 Pessoas bobas sonham mais que as outras, têm mais esperanças. Pessoas bobas ficam felizes na praia quando está chovendo, gostam do barulho do mar. Pessoas bobas param para pensar em tudo que ouvem. Pessoas bobas não acham graça da mesma forma que outras. Pessoas bobas perdem muito tempo com a Lua e com o Sol. Pessoas bobas se preocupam muito com o Tempo. Pessoas bobas ficam felizes de encontrarem outros bobos, pois os bobos interpretam a competição e a amizade de outra forma. A alegria dos bobos é mais alegria, pois tem quase sempre a alegria inventada, aquela alegria de bobeira mesmo, uma alegria que transborda, que aceita.

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