Por Luciana P. Espindola
Todas as fotos que eu já vi e que me inspiraram, na verdade, todas as fotos que eu tirei me fizeram perceber que as paisagens não duram. Ficam lá inertes e acabam sozinhas, apenas por uma foto é possível compreender sua plenitude. Passamos pela floresta sem percebê-la. Na fotografia a brisa é ignorada e então é possível perceber o orvalho nas folhas, a textura do caule apenas por uma foto, porque fotos já nascem mortas, como flores plásticas com beleza eterna ao contrário das naturais que envelhecem e morrem. Resumindo: é difícil admirar o que é vivo. Talvez seja por isso que o passado pareça tão belo, lembramos do que sentimos e não do que aconteceu. Saudades corrosivas em alguns casos são "enganos corrosivos", outro tipo de fuga para quem gosta de fugir. Estou fluindo, no agora e para frente sem me esquecer. A princípio isso me desesperava, Música para mim é o que o vento é para as folhas, a paixão é o meu ritmo, a paz é o meu estado genuíno. A paz... As relações perturbam a minha paz, mas sem elas não há paz alguma.
Olho fotos e, eu não estou lá. Me pergunto quantas vidas eu já vivi, quantas vezes afinal eu morri no banheiro? Quantas vezes eu dormi em prantos e deixei um caminho inexplorado para trás? Quantas vezes eu estive com a faca e o queijo na mão e cortei as próprias mãos? Onde eu comecei? Quando eu perdi o fio da meada? Quantas vezes eu cheguei em casa e tive que esperar minha cama parar de girar para enfim dormir? Acordar no silêncio... Eu sempre soube que iria embora alguma hora de algum lugar... eu fui embora inclusive do que eu costumava ser.
Vi a morte num dia de inverno e para ela ir embora tive que prometer que tentaria as coisas de outra forma, silenciosamente disse a mim mesma que amaria, assim quando a morte viesse levaria apenas meu corpo, meu fôlego... Eu levaria todo o amor que eu dei e todos os meus suspiros.
Transcender
"Eu só ando por dentro de mim; se fui em outro lugar foi pra me ver.
Não saio de dentro de mim nem pra pescar.
Ando mais por dentro de mim do que na estrada" (Manoel de Barros).
Autora do blog Patchwork de Palavras.
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