Por Denise Fernandes
Não fiz primeira comunhão.
Fiz um catecismo espírita. Era bem interessante, mas eu me sentia sozinha
naquela aliança estranha: eu e um menino protestante, sozinhos, na sala de aula.
O resto da turma na primeira comunhão. Mesmo não estando mais numa escola
católica, os encontros da primeira comunhão aconteciam dentro do horário de
aulas. Eu e o menino olhando para o teto, unidos num outro Jesus. O Salvador
tem muito mistério mesmo.
Num certo período, comecei
a ter insônia – e a dar trabalho com isso. Minha mãe pediu ajuda no centro
espírita. Eles receitaram que ela contasse uma história pra mim toda noite,
antes de dormir, e deram a orientação de como deveria ser contada. A história
era a seguinte: um homem havia sido muito, muito, muito mal aqui na Terra;
tendo cometido todos os crimes possíveis e realizado todas as barbáries. Ele
foi tão, tão mal, que sua única bondade foi salvar a vida de uma aranha prestes
a ser morta por um companheiro de malvadezas. Ele impediu sua morte e pediu ao
companheiro que deixasse o bicho em paz, afastando sua mão quando ia esmagá-la.
Quando esse homem morreu, ele
foi para o Inferno. Evidentemente. Ali encontrou um mundo de agonia e dor; com
todos sofrendo, gritando e odiando ao seu redor. Daí lembrou que, se ele estava
no Inferno, era porque talvez houvesse Deus. Com uma fé que não sabia que tinha,
ele pediu para Deus ajudá-lo, pois queria ir embora daquele lugar. Então, do
plano superior do Inferno (que era muito escuro, como tudo ali), surgiu uma luz
maravilhosa e brilhante, de onde pendia uma aranha cheia de luz. A aranha
desceu e disse ao homem: "Sou a aranha que salvaste da morte. Vem, segura
em minha luz e sairemos daqui".
Se sentindo muito feliz, o
homem agarrou esse tênue fio de luz e começou a subir. Logo, todas as pessoas no
Inferno (que estava super, super lotado) seguraram e agarraram o fio de luz,
formando um único cordão suculento de gente; amarrado na corda de luz da
pequena aranha. Foi quando o homem, temeroso de que não houvesse força suficiente
naquela luz, passou a chutar seus companheiros – buscando mesmo derrubá-los. A
luz se apagou completamente. E o homem nunca mais saiu do Inferno.
Muitas vezes minha mãe
contou essa história. Ela é um poderoso remédio para insônia.
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