sexta-feira, 20 de fevereiro de 2015

O bloco da saudade

Por Mayanna Velame




“Vai, vai saudade / Me deixe viver sossegado / Vai, vai saudade / Há tanto tempo você vive ao meu lado.” E a saudade é assim: também permeia as letras das marchinhas de carnaval. Há dias que acordamos dessa forma, com alguns sintomas de tal sentimento. Difícil não viver sem ela; pois a saudade não cabe numa mala de viagem, não cabe num poema de amor. A saudade é ferida aberta que (quando cutucada) arde até o último segundo.


Saudade faz morada nas canções ouvidas, resplandece nas fotografias vistas, reativa as lembranças adormecidas. Traz à tona a presença de alguém que não está mais ali. Saudade ressuscita aromas, reapresenta sabores.


A vida se resume em duas palavras: chegadas e partidas. Estamos sempre indo e vindo. Essa é a lei que rege nossa existência. Deixamos nossos gostos, preferências, gestos e rabugices – como marca inapagável – no coração das pessoas.


De toda saudade presente, o passado se materializa. Só sentimos falta daquilo que se foi. E a saudade é como um alarme que, ao ser acionado, dispara freneticamente.


Das marchinhas de carnaval, a saudade irá desfilar na avenida de nossas vidas. Em nosso samba-enredo, há sempre uma ala da saudade desfilando na memória. E no bloco da saudade, só existe espaço para quem gosta de senti-la.


Afinal, a saudade é como o carnaval: faz um barulho danado (dentro do peito), arrepia os cabelos da nuca e faz o nosso coração sambar.

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