Por Mayanna Velame
Aproximando-se o período carnavalesco, minha mente se
depara com vivas e saltitantes lembranças. Dizem que todos, nessa vida, possuem
alguma história de carnaval para contar. E, comigo, isso não seria diferente...
No carnaval de mil novecentos e não me lembro, meus pais
resolveram cair na farra. Como eu e meus irmãos éramos pequenos, ficamos hospedados
na casa de uma tia.
Até hoje, lembro-me do sorriso de mamãe. Da sua bermuda
florida e do seu colar de rosas artificiais. Naquele tempo, os desfiles das
escolas de samba aconteciam numa das principais avenidas da cidade de Manaus, a
Djalma Batista. Muitas arquibancadas eram montadas à espera do público folião.
Aquela atmosfera me animava. De noite, perto do início do
desfile, subi alguns degraus da escada – que me conduziu até a laje da casa. As
luzes da cidade cintilavam como purpurina. E os refletores da avenida eram
semelhantes a auroras. Na rua, mascarados desfilavam espalhando confetes pelo
asfalto. Nas paradas de ônibus, pessoas fantasiadas coloriam a noite. Perguntava-me pelos meus pais, se eles já
estavam prontos para a folia.
Enquanto isso, as horas sambavam. Meus irmãos pediam para
dormir. No entanto, eu continuava lá... Até que, de repente, entre o ronco dos
carros e o cricrilar dos grilos, surgiu, longinquamente, o som de uma batucada.
Era o começo do desfile. Mesmo distante, passei boa parte da noite ouvindo
aquilo. Um vento tímido me fazia companhia. Com a chegada do frio e da
madrugada, me acomodei na poltrona da sala. Na tevê, exibiam o desfile das
escolas de samba. E na passarela, desfilavam os tradicionais personagens do
carnaval: mulatas, porta-bandeiras, baterias, comissões de frente...
Durante um bom tempo, procurei meus pais no meio daquela
multidão afoita. Porém, não os encontrei. Eu permaneci acordada, sem sono. Entre
uma escola e outra, deixei a solidão da noite sambar comigo.
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