sexta-feira, 13 de fevereiro de 2015

Lembrança de carnaval

Por Mayanna Velame




Aproximando-se o período carnavalesco, minha mente se depara com vivas e saltitantes lembranças. Dizem que todos, nessa vida, possuem alguma história de carnaval para contar. E, comigo, isso não seria diferente...


No carnaval de mil novecentos e não me lembro, meus pais resolveram cair na farra. Como eu e meus irmãos éramos pequenos, ficamos hospedados na casa de uma tia.


Até hoje, lembro-me do sorriso de mamãe. Da sua bermuda florida e do seu colar de rosas artificiais. Naquele tempo, os desfiles das escolas de samba aconteciam numa das principais avenidas da cidade de Manaus, a Djalma Batista. Muitas arquibancadas eram montadas à espera do público folião.


Aquela atmosfera me animava. De noite, perto do início do desfile, subi alguns degraus da escada – que me conduziu até a laje da casa. As luzes da cidade cintilavam como purpurina. E os refletores da avenida eram semelhantes a auroras. Na rua, mascarados desfilavam espalhando confetes pelo asfalto. Nas paradas de ônibus, pessoas fantasiadas coloriam a noite. Perguntava-me pelos meus pais, se eles já estavam prontos para a folia.


Enquanto isso, as horas sambavam. Meus irmãos pediam para dormir. No entanto, eu continuava lá... Até que, de repente, entre o ronco dos carros e o cricrilar dos grilos, surgiu, longinquamente, o som de uma batucada. Era o começo do desfile. Mesmo distante, passei boa parte da noite ouvindo aquilo. Um vento tímido me fazia companhia. Com a chegada do frio e da madrugada, me acomodei na poltrona da sala. Na tevê, exibiam o desfile das escolas de samba. E na passarela, desfilavam os tradicionais personagens do carnaval: mulatas, porta-bandeiras, baterias, comissões de frente...


Durante um bom tempo, procurei meus pais no meio daquela multidão afoita. Porém, não os encontrei. Eu permaneci acordada, sem sono. Entre uma escola e outra, deixei a solidão da noite sambar comigo.

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