sábado, 14 de fevereiro de 2015

De boca aberta

Por Meriam Lazaro




Há quem durma de boca aberta. Há os que mastigam de boca aberta. Há também o chamado boca-aberta, que está sempre por fora do que é exigido saber. Enfim, há muitas maneiras de vivenciar a “boquiabertice” humana, como aquela que nos impomos em nome de um sorriso bonito.


– Que coisa ridícula ter medo de dentista, alguém que procuramos para o nosso próprio bem! Assim eu pensava... Mas entre o que pensamos ser e o que somos, há uma enorme distância. Ontem experimentei duas cadeiras de dentistas. Ambas, ao mesmo tempo, confortáveis e desesperadoras. Quando procurei minha dentista para fazer uma revisão, esta me indicou tratamento com uma ortodontista que ali trabalha ocasionalmente. Concordei.


Pelo que entendi, a ortodontista iria fazer uma limpeza mais profunda. E foi o que fez. Eu já estava de boca aberta, com o sugador em pleno funcionamento. Munida de um ferrinho pontudo (e outro com um espelho redondinho), ela perguntou se eu preferia que a limpeza fosse realizada sem anestesia. – A senhora é também humorista? – pensei em retrucar. – Com anestesia, por favor! Adoro anestesia.


Depois de três agulhadas dilaceradoras, teve começo a faxina rigorosa de caninos, molares e mais 999 dentes. E para honrar a coragem que sempre me atribuí, tentei – inutilmente – relaxar o restante do corpo que não estava anestesiado: dos dedos do pé até o couro cabeludo. Ainda recorri aos pensamentos de fuga. Será que há exercício de meditação para praticar na cadeira do dentista?


Meio sorriso limpo. Deverei me apresentar na sala de tortura na próxima semana, para limpeza da arcada superior. Passei, então, à segunda parte do atendimento com a minha dentista. Agora, uma molezinha... Adaptação de um aparelho acrílico!


Pesquisando sobre odontofobia no Dr. Google, encontrei que cerca de 15 a 20% das pessoas sentem medo de ir ao dentista. Só? Em outra página, divulga-se que o medo de dentista vem em terceiro lugar entre os medos da humanidade (depois do medo de falar em público e do medo de altura). A propósito, os outros três medos seriam: medo de problemas financeiros, medo de águas profundas e, em último lugar, medo da morte. Eu ordenaria assim: medo de dentista, medo de dentista, medo de dentista.
 

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