terça-feira, 1 de outubro de 2013

Sonhei com o Mar

Por Denise Fernandes
 
 


         No ônibus parado, minhas memórias vão e vêm, num caldo de mar e areia. Tem duas noites que sonho com mar. Sempre foi hábito compartilharmos sonhos na minha família. Minha mãe sonha muito, como eu, minha filha e minha irmã. Esse sonhar tem sentido duplo, sonhos dormindo e acordada, sonhamos muito as quatro (nos dois sentidos). Sonho com um leão que me persegue no mar. E acordada sonho tanto, o mar fica sem poluição alguma, amor, amor, amor, sempre simples. Já sei que é sonho.


         Acordo quatro horas da manhã: preciso acordar o leão que me persegue, o coração meio disparado, o lençol revirado na cama, parece que nadei mesmo na perseguição.
 
         Na televisão, o tempo não passa. O Silvio Santos, alienígena e mutante, anti-Tempo. Se eu procurar ainda encontro o baú da felicidade que o tal do Silvio escondeu em algum lugar. Só minhas memórias não querem ficar em baú. Também meus versos preferem o vento.
 
         Agora já estamos sentindo vontade de pintar a casa. Mais cor, todos juntos. Porque já foi bom estarmos sujos de tinta, bem sujos e tão divinamente limpos. Segundo uma amiga, quando a gente pinta a casa, as energias se renovam. E isto nos interessa: mais ideias, mais espaços, um Tempo que escreve uma história em que somos livres. Junto com a cor, vem a Verdade, e isso antes a gente não sabia. Na cor dos teus olhos, da tua pele, teu amor escrevendo. Tenho a lembrança de estar tão perto que só era capaz de sentir por nós, eu já nem me achava. Tenho a lembrança também de me sentir uma árvore forte. E de um canteiro de margaridas que havia na minha casa, na minha infância. Fui mais feliz do que triste, mas não tiraria de mim a tristeza, mesmo que seja para chorar na novela por um amor que não é meu. Mesmo que seja idiota ser triste e até sem cor. Mesmo que a tristeza transforme o mar naquilo que o mar não é. Mesmo assim.
 

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