Por Denise Fernandes
No ônibus parado, minhas
memórias vão e vêm, num caldo de mar e areia. Tem duas noites que sonho com
mar. Sempre foi hábito compartilharmos sonhos na minha família. Minha mãe sonha
muito, como eu, minha filha e minha irmã. Esse sonhar tem sentido duplo, sonhos
dormindo e acordada, sonhamos muito as quatro (nos dois sentidos). Sonho com um
leão que me persegue no mar. E acordada sonho tanto, o mar fica sem poluição alguma,
amor, amor, amor, sempre simples. Já sei que é sonho.
Acordo quatro horas da
manhã: preciso acordar o leão que me persegue, o coração meio disparado, o
lençol revirado na cama, parece que nadei mesmo na perseguição.
Na televisão, o tempo não
passa. O Silvio Santos, alienígena e mutante, anti-Tempo. Se eu procurar ainda
encontro o baú da felicidade que o tal do Silvio escondeu em algum lugar. Só
minhas memórias não querem ficar em baú. Também meus versos preferem o vento.
Agora já estamos sentindo
vontade de pintar a casa. Mais cor, todos juntos. Porque já foi bom estarmos
sujos de tinta, bem sujos e tão divinamente limpos. Segundo uma amiga, quando a
gente pinta a casa, as energias se renovam. E isto nos interessa: mais ideias,
mais espaços, um Tempo que escreve uma história em que somos livres. Junto com
a cor, vem a Verdade, e isso antes a gente não sabia. Na cor dos teus olhos, da
tua pele, teu amor escrevendo. Tenho a lembrança de estar tão perto que só era
capaz de sentir por nós, eu já nem me achava. Tenho a lembrança também de me
sentir uma árvore forte. E de um canteiro de margaridas que havia na minha
casa, na minha infância. Fui mais feliz do que triste, mas não tiraria de mim a
tristeza, mesmo que seja para chorar na novela por um amor que não é meu. Mesmo
que seja idiota ser triste e até sem cor. Mesmo que a tristeza transforme o mar
naquilo que o mar não é. Mesmo assim.
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