Por Amilcar Neves*
Marcontônio é artista plástico bastante conhecido. Ao menos suas pinturas, desenhos, gravuras e ilustrações são bem familiares ao chamado público em geral. Seus trabalhos ilustram um sem-número de folhetos de novos edifícios residenciais e uma quantidade impensável de casas, lojas, apartamentos e escritórios das pessoas que querem ser vistas como cultas e donas de invejável bom gosto.
Apesar de pintor, ou artista visual, e apesar de admiravelmente jovem, Marcontônio já é um sujeito rico, embora não tanto, ainda, como o milionário Eike Batista. Mas a diferença financeira entre ambos tem os dias contados, visto o fantástico e acelerado esvaziamento dos haveres do empresário, velocidade e processo apenas comparáveis ao ritmo do seu pretérito acúmulo de dinheiro.
Mas o que nos interessa aqui são a figura e as atribulações de Marcontônio, que os amigos de Criciúma, a terra natal, chamam de Marcon, Marcão ou Marcô, enquanto os moradores de Balneário Gaivota, também no Sul catarinense, onde o pintor fixou ateliê e residência após deixar as lides da publicidade, conhecem como Tonho, Tônio ou Ontô.
Publicidade, aliás, é coisa de que Marcontônio jamais gostou. Da palavra publicidade, quero dizer, não dos afazeres inerentes à atividade. O agora artista costuma brincar que publicidade lembra reclame, enquanto o binômio comunicação &marketing tem toda uma sofisticada ciência por detrás, a qual é responsável por fazer com que as pessoas, aquele tal de público em geral, ajam e comportem-se conforme os desejos do anunciante, propiciando ganhos generosos ao publicitário e, limitados, às suas equipes, o que inclui a criação.
Homem de criação publicitária, imaginativo e oportunista (no sentido de alguém que percebe antes de todos onde brota a próxima oportunidade de realização e sucesso), foi daí que saiu sua decisão de ser artista em Balneário Gaivota, o que acabou por se revelar atitude e estratégia corretas, dado o sucesso que logrou obter não só em Santa Catarina como no Brasil e, mesmo, no resto do mundo: sabe-se já de duas ou três galerias em Nova York que vendem aos borbotões cópias de suas obras.
Sim, cópias das obras, pois Marcontônio notabiliza-se por não deixar originais, os quais destrói tão logo aprove, para reprodução e comercialização, a cópia-mãe, fiel e minuciosa, do seu trabalho. As cópias são numeradas e assinadas à mão, uma a uma, pelo próprio artista, procedimento que lhes assegura a autenticidade tão valorizada pelos clientes.
Marcontônio diz que assim procede por causa do senso democrático que o persegue desde o mais tenro berço: ele não se sentiria bem se soubesse que milhares têm cópias das suas obras enquanto somente uns poucos detêm os originais. Assim, o neto caçula do velho Marcantônio Osório celebrizou-se por ser um pintor, único no mundo, a não manter nem permitir a posse de seus originais.
Osório que indiscutivelmente é, todo início de primavera, ao primeiro calor da estação, Marcontônio se manda do seu retiro criativo para a casa do primo Manoel Osório, na Ilha. Seu objetivo confesso é flagrar, por motivações exclusivamente estéticas em favor da sua arte figurativa, as mulheres da Capital em suas primeiras exibições de pernas e revelações dos corpos - o que o leva invariavelmente a frequentar prontos-socorros da cidade por conta da incompreensão selvagem de maridos e namorados que se dizem ultrajados por olhos tão agudos e analíticos postos sobre suas mulheres.
* Crônica publicada no
jornal "Diário Catarinense" de 09.10.13
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