Por Meriam Lazaro
Nasci velho, carregando a memória do mundo.
Manto
roto, riso sério. Lanterna de papel descendo pelo rio.
Entre
pião e redemoinho, aprendi a ser menino.
Não
guardei saudade da terra natal, sonhos de liberdade,
Nem a
salvação danada.
Mais que
nada, fui tropeço em carnavais.
Boia-fria
em canaviais e facas!
Para me
perder do que não fui não conto mais os anos.
Já não
sofro.
Também
não morro.
Nem
espero palmas à porta.
Camisetas
numeradas, fogos de artifício,
Rostos
informes desfilam diante de olhos de quem pouco vê.
Ouvidos
moucos, gritos de gol.
Filhos
partidos. Sirvo à morte da casa caiada...
Na mesa,
jarra sem girassóis.
Fuligem
no teto, paredes altas.
Fantasmas
obesos e censores:
– Olha
ele ali! Fez xixi nas calças.
Eu era um
velho.
Hoje já nem sei.
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