terça-feira, 15 de outubro de 2013

Eu Verdadeiro

Por Denise Fernandes




Já faz um tempo que meu segundo filho me falou de um filme que eu tinha que ver. Ele estava entusiasmado e tão convencido que eu tinha que vê-lo, que fui atrás. O filme se chama “Mais Estranho que a Ficção”. O protagonista descobre que sua vida tem uma autora. E, com isso, pode ser uma comédia ou tragédia o enredo de sua vida.

         Essa outra pessoa que me escreve: roteiro, fala e ação, é dona da minha alegria, da minha vida ou morte. Nesse filme, as opções são claras: se você morre no final, o filme da sua vida é uma tragédia. Se o final é diferente da morte, você viverá uma comédia. Esse clarear me fez bem. Viver uma vida que não acaba com a morte... Para isso, minha vida precisa mesmo existir além de mim.

         Na comédia da minha vida, um desafio para o meu humor tem sido os profissionais de telemarketing, que insistem em ligar para mim. Para mim? Eles ligam para um eu que não sou eu, ligam para meu RG, meu CPF, meu dinheirinho. Na minha infância, não tínhamos telefone e eu sonhava com todos os telefonemas maravilhosos que receberia. Não sei se é por isso que fico tão brava com esses telefonemas.

         Pode ser também a hipocrisia da gentileza no telefone. Também porque essas pessoas abusam da minha paciência e carência afetiva. Um exemplo real: liga uma moça de telemarketing e pergunta do meu namorado de dez anos atrás. Explico que não mora aqui. Mas você conhece, a chatinha vai prolongando a conversa. Explico que foi meu namorado. Ela quer saber onde ele está. Conto que não sei onde ele está. A imbecil na linha: ”Mas como assim a senhora não sabe onde está o seu namorado?”. Só desliguei o telefone na cara dela, mas minha vontade era a de mandar ela tomar naquele lugar mesmo, nove e meia da manhã ensolarada e eu espumando de ódio. Já tentei bloquear o telemarketing de todo jeito, mas telemarketing é que nem traça e pernilongo.

         Quando vi esse filme no Canal Brasil, dei ótimas gargalhadas. O Fabio, bom amigo, achou o filme na internet. Se você não gosta de telemarketing, assista, que acho que você vai se divertir também. Se você gosta de telemarketing ou trabalha com isso, também vale a pena. Olha o link aqui.

         Enquanto quem escreve minha vida se diverte com as minhas brigas ao telefone, ainda espero que ele toque para mim, quer dizer, para o meu eu verdadeiro, esse mesmo, sem RG, CPF ou dinheiro. O meu eu que não tem nada, nadinha de nada além de mim.

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