sexta-feira, 25 de outubro de 2013

O Banho

Por Mayanna Velame
 


Tarde efervescente de sexta feira. O sol majestoso e único espalha seus raios entre as poucas nuvens no céu. O asfalto empoeirado abriga dezenas de carros, que tentam cruzar as ruas – todos de uma só vez.
 

Trânsito inerte, buzinas, motores, sirenes, vozes, calor. A cidade enlouquecida também enlouquece Elisa. Ela não suporta mais: está a bordo de um ônibus apinhado de homens e mulheres, vítimas da exorbitante quentura que resolvera castigar a terra.

Impaciente, Elisa tenta enxugar a nuca com um lenço bordado. De olho no relógio cingido, no pulso esquerdo, a moça vê os ponteiros sendo cúmplices das horas.

A temperatura aumenta, quarenta graus, e daqui a pouco todos estarão em chamas (inclusive Elisa). Pouco a pouco, ela sente o suor escorrer em suas costas, desespera-se, suspende cada vez mais as mangas de sua blusa branca, estilo social. Um passageiro gordo e bigodudo a imita.

De repente, o motorista acelera, o ônibus sofregamente volta a percorrer as ruas. Um vento morno e tímido faz suas mechas castanhas esvoaçarem no ar. Duas paradas a separam de sua casa. Feliz, levanta-se do assento, gentilmente pede licença. Seu corpo robusto e suado sente dificuldades em encontrar a porta de saída do coletivo.

O sufoco termina e, para andar ligeiramente, Elisa retira o par de sapatos de salto alto. Tempos depois, ela sobe uma ladeira íngreme, desabotoando a camisa. Uma das alças do sutiã branco é exibida. Passantes a observam com olhares maliciosos e diabólicos.

Já em casa, Elisa se despe rápida. O corpo nu procura o banheiro. Logo o chuveiro é ligado, gotas gélidas começam a umedecer os cabelos castanhos lisos. A água escorrida inicia seu passeio. Primeiramente, percorre o rosto corado, depois, banha o nariz arrebitado, para em seguida beijar a boca entreaberta, de lábios tentadores e carnudos.

Elisa se sente mais leve, suas mãos deslizam o sabonete com vontade: desde as costas até as nádegas rechonchudas, explora com ardor cada extensão de sua pele vistosa. O rêgo que se forma entre os seios volumosos serve como canal para o líquido transparente visitar outras partes do corpo.
 
O banho continua... Até que finalmente Elisa, agora regozijada, alcança uma toalha sobre a pia. E, andando, segue pelos corredores da casa com os pés molhados e descalços.
  

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