Por
Rosimeire Soares
O filho, cuja mãe não é como as outras,
descobriu tudo. Ela amou. Ela gerou. Ela maternamente proveu, mas não é como as
outras.
Hoje, aos sete anos, ele quer saber: por
que sua mãe não é como as outras? Como assim, não é como as outras? Ele não
conhece a tênue diferença entre estar mãe e ser mãe.
Ezequiva está em idade escolar e logo no
primeiro dia de aula:
– Dê um beijo na mamãe, filho.
– A senhora já vai?
– Sim, mas no final da tarde estarei
aqui, meu querido. Boa aula!
– Obrigado, mamãe!
A mãe cumpre seu papel de mulher, mãe,
profissional. Abre as abas de proteção a sua única prole, destina todos os seus
dias e remuneração ao ente que dela depende. É mãe!
Os dias se sucederam na mais absoluta
normalidade. Ezequiva vai à escola. É inteligente. Já aprendeu a ler, enquanto
grande parte dos coleguinhas ainda não percorreu esse caminho para a
aprendizagem das letras, dizia a professora.
Enquanto acompanha as atividades
escolares, propostas para serem realizadas em casa, a mãe segura firme o
coração que quer saltar pela boca cada momento de plena aprendizagem,
associação e interpretação realizada pelo filho. Ele já sabe a diferença
fonética entre “jacaré” e “jacare”, se diverte com a descoberta da diferença
semântica entre “coco” e “cocô”. Ezequiva tem domínio da linguagem escrita,
dentro do que esperado para sua idade. Deve ter puxado a tia, que é professora
na área de linguagem, embora pouco tenha contribuído para o desenvolvimento do
sobrinho.
Na linguagem matemática, Ezequiva não
decepcionou a mãe, visto que aprendeu rapidamente a “ler” as horas; aprendeu a
contar dinheiro e resolve probleminhas na eficiência de um bom entendedor.
Dentre todas as disciplinas estudadas,
Ezequiva se encabulou com uma: História. Assunto privilegiado pelo currículo
escolar é a história da vida de cada um. Todos possivelmente têm uma história
interessante, intrigante, até, mas Ezequiva quis saber da sua. Por que sua mãe
não é como as outras?
Os coleguinhas sempre riem e fazem
piadas porque a mãe de Ezequiva tinha um jeito especial de andar. Com alguns
centímetros a menos na perna esquerda, vítima de paralisia infantil, e sem as
devidas flexões no joelho, ela ganha uma performance diferenciada no caminhar.
Para uns, isso é normal, porém para crianças em idade escolar e em plena
formação de sua identidade social, aquilo que destoa do comum torna-se curioso
e elas precisam saber. Ezequiva quer saber por que, além de sua mãe, seu pai
não é como os outros, aliás, por que não vivia com seu pai?
As pedagogias familiares, para explicar
a Ezequiva como funcionam algumas coisas, são utilizadas na íntegra e ficava
sempre a impressão de que ele compreendia. Ele compreendia, mas surgiam novas
dúvidas. Por que ele vive diante de situações tão diferentes? Por que não tem
tantos videogames quanto gostaria?
A mãe de Ezequiva faz de sua rotina um
privilégio ao filho, mas como criança ele sempre deseja aquilo que vê e pouco
nota aquilo que tem. A diferente mãe se diferencia também neste quesito. Ela
dedica-se a ele, faz por ele aquilo que muitas mães não fazem para os filhos.
Ela é mãe!
Ele é o filho cuja mãe é diferente!
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