segunda-feira, 19 de novembro de 2012

O Filho Cuja Mãe...

Por Rosimeire Soares

 

O filho, cuja mãe não é como as outras, descobriu tudo. Ela amou. Ela gerou. Ela maternamente proveu, mas não é como as outras.

Hoje, aos sete anos, ele quer saber: por que sua mãe não é como as outras? Como assim, não é como as outras? Ele não conhece a tênue diferença entre estar mãe e ser mãe.

Ezequiva está em idade escolar e logo no primeiro dia de aula:
Dê um beijo na mamãe, filho.
– A senhora já vai?
Sim, mas no final da tarde estarei aqui, meu querido. Boa aula!
Obrigado, mamãe!  

A mãe cumpre seu papel de mulher, mãe, profissional. Abre as abas de proteção a sua única prole, destina todos os seus dias e remuneração ao ente que dela depende. É mãe! 

Os dias se sucederam na mais absoluta normalidade. Ezequiva vai à escola. É inteligente. Já aprendeu a ler, enquanto grande parte dos coleguinhas ainda não percorreu esse caminho para a aprendizagem das letras, dizia a professora.  

Enquanto acompanha as atividades escolares, propostas para serem realizadas em casa, a mãe segura firme o coração que quer saltar pela boca cada momento de plena aprendizagem, associação e interpretação realizada pelo filho. Ele já sabe a diferença fonética entre “jacaré” e “jacare”, se diverte com a descoberta da diferença semântica entre “coco” e “cocô”. Ezequiva tem domínio da linguagem escrita, dentro do que esperado para sua idade. Deve ter puxado a tia, que é professora na área de linguagem, embora pouco tenha contribuído para o desenvolvimento do sobrinho. 

Na linguagem matemática, Ezequiva não decepcionou a mãe, visto que aprendeu rapidamente a “ler” as horas; aprendeu a contar dinheiro e resolve probleminhas na eficiência de um bom entendedor. 

Dentre todas as disciplinas estudadas, Ezequiva se encabulou com uma: História. Assunto privilegiado pelo currículo escolar é a história da vida de cada um. Todos possivelmente têm uma história interessante, intrigante, até, mas Ezequiva quis saber da sua. Por que sua mãe não é como as outras? 

Os coleguinhas sempre riem e fazem piadas porque a mãe de Ezequiva tinha um jeito especial de andar. Com alguns centímetros a menos na perna esquerda, vítima de paralisia infantil, e sem as devidas flexões no joelho, ela ganha uma performance diferenciada no caminhar. Para uns, isso é normal, porém para crianças em idade escolar e em plena formação de sua identidade social, aquilo que destoa do comum torna-se curioso e elas precisam saber. Ezequiva quer saber por que, além de sua mãe, seu pai não é como os outros, aliás, por que não vivia com seu pai? 

As pedagogias familiares, para explicar a Ezequiva como funcionam algumas coisas, são utilizadas na íntegra e ficava sempre a impressão de que ele compreendia. Ele compreendia, mas surgiam novas dúvidas. Por que ele vive diante de situações tão diferentes? Por que não tem tantos videogames quanto gostaria? 

A mãe de Ezequiva faz de sua rotina um privilégio ao filho, mas como criança ele sempre deseja aquilo que vê e pouco nota aquilo que tem. A diferente mãe se diferencia também neste quesito. Ela dedica-se a ele, faz por ele aquilo que muitas mães não fazem para os filhos. Ela é mãe!
 
Ele é o filho cuja mãe é diferente!
 

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