Por Denise Fernandes
Agora, além dos buracos
negros onde somem as colherinhas, os isqueiros e os pares de meia, há o
estranho desaparecimento do controle remoto da TVA em minha casa. Simplesmente
sumiu, devorado pelo mesma espécie de buraco que, sei lá, resolveu experimentar
e comer um controle remoto para ver como era. Ou há um buraco negro específico
que só come controle remoto...
A moça que me
atendeu parecia totalmente tranquila com a situação, como se fosse super normal
perder o controle remoto da televisão dentro de casa. Eu, preocupada com o
desaparecimento, e ela numa boa. Feliz com o fardo de doar controles remotos;
que para ela não era um fardo, era de uma alegria de viver. A atendente chegou
ao cúmulo de me agradecer três vezes. Aceitei o agradecimento, mesmo sem
entender muito o sentido de tanto obrigada – e de tamanha aceitação da perda.
O que eles imaginam? Ninguém se pergunta o que
acontece com os controles? Minha mãe perdeu o dela porque ele se quebrou. O meu
caso é estranho porque envolve buraco negro: assim, sumiu. Pensando bem,
sumiram mais coisas: sentimentos, pensamentos, esperanças, uma força que eu
tinha e não tenho mais.
Sumiram os dias de neblina em São Paulo e
sumiu-se o tempo em que não ficava percebendo o tempo passar, uma inocência que
eu tinha em relação à vida (esquecia completamente dela e de mim). Esse
esquecimento sumiu num buraco negro. Agora só esqueço de mim quando adormeço.
Mas já sonhei com buraco negro: no sonho, ainda penso e procuro colherinhas,
isqueiros, um par de meias combinando, um controle remoto.
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