Por Rosimeire Soares
“Para
onde estava indo?” Pergunta aparentemente óbvia para quem tomou um transporte
coletivo na capital. Ora, dentro do Eixo Anhanguera havia dezenas de pessoas.
Passageiros de idades diferentes, destinos diferentes, passageiros...
Minha
infinitude de pensamentos foi incomodada por um barulho irreconhecível. Já
andei no “Eixão” inúmeras vezes e não consegui resgatar na memória aqueles
ruídos. Bichos? Ratos? Adolescentes! Sempre contestadores, eles carregam o
cetro da juventude, querem mudar o mundo, mas a mínima capacidade de defender
uma ideia pode se esvair de forma tão ruidosa como aquela abordagem. Invadiram
aquele ambiente locomotivo a fim de esculhambar as vozes omissas.
Ao
olhar, de relance, aquela menina, de 15 anos, mais ou menos, vestida como
pivete, não, ela é uma pivete com boné na cabeça, andar cheio de gingado sem
ritmo, gíria, pequenos sons guturais, frases lacônicas que revelam o grupo do
qual ela insiste em fazer parte, lembrei-me de Manu, menina travessa, que
sempre viveu nos arredores de minha casa. Seus pais diziam não saber mais o que
fazer com Manu. Diziam que a entregariam à própria sorte. Sorte? Ali, todos
eram da mesma sorte. Que Sorte? Que sorte?
As
portas do ônibus, escolhido entre tantos, foram obstruídas e uma logística
eficiente e perceptível dominava aquela
operação singular, mas plural. Cada indivíduo parecia cumprir seu papel com
destreza: palavrões, gritos, xingamentos, berros, arrastões! “Dinheiro,
celular, tênis, mochila, passa tudo seu filho da P”. A selvageria urbana ataca
mesmo sem ser para se defender. Não seria uma defesa? De quem eles se defendem?
Dos prédios, dos tênis roubados? Da panela vazia? Dos governos de ninguém? Da
Educação não recebida? Do vício? Da insegurança?
Ser
refém é ser nada, no meio do nada é estar dentro do Eixo. Algazarra! Muitos riem. Poucos entendem a
piada. Gritos. “Passa o relógio!” Sem hora para tudo. “Seu Deus nunca fez
milagre em mim, passa a bolsa, o bilhete da passagem, a bijuteria”. O descrédito
na fé, a falsa ilusão, tudo fora do Eixo. Por um instante (ínfimo instante) fiz
nova leitura do evento e criei nova progressão. Se todos os seres se unissem silenciosamente
contra os entes invasores desarmados, mal armados, teriam o controle da
situação, o controle político de suas vidas. Libertar-se-iam do caos.
Para onde mesmo que eu estava indo? Pouco
importa. O importante é a travessia!
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