terça-feira, 16 de maio de 2017

Paz

Por Denise Fernandes




Minha filha me contou que meu neto, ao organizar suas intenções para o Ano Novo, fez um pedido pela paz mundial. Pulou uma onda, no amor, com essa intenção. Quando ela me falou, sorri por dentro e por fora. Que coincidência boa! Nunca conversei com meu neto sobre a paz mundial, mas ela foi sempre uma preocupação para mim, desde a infância.

Quando eu era criança, era comum assistir filmes sobre a Segunda Guerra Mundial. Meu avô paterno me falava muito sobre isso, adorava o tema, se deliciava com os detalhes dessa grande guerra que mudou o mundo, segundo ele. Essa presença da guerra (como um fantasma) me fazia fantasiar novas guerras, e sonhar com a paz mundial.

Tive longas discussões com meu pai sobre a paz mundial. Ele defendia que sempre haverá guerra: pelo caráter agressivo do homem, alguns mais do que outros, pelos interesses econômicos que motivam conflitos entre países. O estado promove a guerra sempre que lhe parece lucrativo. Diante de seus argumentos baseados na história, eu me irritava, chegava mesmo a me desesperar: não pode mudar? A história não pode ser diferente? A quantidade de homens em paz não pode superar a agressividade? Meu pai falava firme: filha, não vai acontecer; é muito difícil essa mudança.

Até hoje, essa questão me intriga. Muitas vezes, pela rua, contabilizo o quanto de agressividade que há no mundo, e o potencial de paz que já existe. Por mais que meu pai tenha razão, não consigo desistir da paz mundial, parece não fazer sentido viver sem esse sonho, tentar construí-lo com palavras e atitudes. O mar fica melhor com o desejo do meu neto. Iemanjá sorri.

Mês passado, andava sem rumo pelo bairro da Liberdade. Foi quando um velhinho, de aparência oriental, me chamou para almoçar em frente a um templo budista. No início, resisti. Mas ele era muito simpático. Participei, então, de um almoço compartilhado por diferentes personagens do bairro: vários orientais, frequentadores da igreja, estudantes das escolas próximas, moradores de rua. O almoço estava delicioso e, enquanto comia, conversei bastante sobre Buda com um morador de rua. Ele refletia comigo como Buda era legal, por não ser capitalista!

No templo, orei, pedi por mim e pelos outros. Quando saí, vi um cartaz dizendo que a cerimônia era pela paz mundial. Segundo uma frequentadora, toda última quinta-feira do mês, acontece esse almoço e cerimônia, pedindo pela paz mundial. Não sou a única que sonha. É um sonho luminoso, que talvez seja maior que o estado. Porque, além de sonho, é uma atitude. Construímos almoços, abraços, realidades.

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