sexta-feira, 5 de maio de 2017

Crônica juvenil

Por Mayanna Velame




Era uma menina tímida, que estava acima do peso. Usava óculos de grau e cabelos presos num rabo-de-cavalo. Não era popular na escola, tinha poucos amigos. E tampouco colecionava grandes amores. Aos treze anos escreveu seus primeiros versos, inspirados em Drummond.


A menina rechonchuda gostava e apreciava as aulas de Língua Portuguesa  não necessariamente por causa das orações coordenadas e do pronome relativo que (mas sim, pelos poemas e suas metáforas).


Quando era Matemática, a menina rechonchuda odiava. Os números não se apresentavam atrativos, logo, as notas baixas revelaram um desempenho nada satisfatório.


A vida seguia, sua adolescência também. A menina de classe média assistia à MTV e, nos momentos de rebeldia contida, ouvia repetidamente algumas canções do Oasis.


Mas foi aos dezesseis anos que a protagonista dessa crônica, pela primeira vez, se apaixonou. Com espírito ultrarromântico, escreveu versos e cartas de amor. No entanto, não houve recíproca. E a desilusão amorosa aconteceu...


Obviamente, assim como todo jovem, a menina rechonchuda também foi vítima de suas crises existencialistas: o vazio de viver, o porquê da vida e os impasses familiares. Na melancolia juvenil, encontrou nos livros uma nova forma de se entender no mundo. Uma vida recriada, paralela à mediocridade que a rodeava.


Naquele tempo, seus desafios não estavam pautados no jogo Baleia Azul. Quando a solidão a subjugava, eram as histórias, as palavras e os personagens  tediosos ou não  que faziam sua vida ganhar novos enlaces.


O tédio juvenil alojava-se nos estudos. Cansou-se deles: das fórmulas, dos ângulos, das regras gramaticais. Só não se fadigava das palavras. Elas eram suas amantes e confidentes.


Jovem, a rechonchuda prosseguiu. Assistiu à separação e reconciliação de seus pais; bem como observou os percalços matrimoniais. Das incertezas, colheu vontade para se expor no mundo. Converteu-se e depois, reverteu-se. Salmos, versículos, Deus... Sim, Deus a entenderia? Anos depois, faculdade, conhecimento e novas amizades. Uma inédita filosofia de se encontrar. Estaria a menina rechonchuda sempre perdida?


Porém, de certo modo, ela ainda há de se encontrar. Nem que seja ao dobrar uma esquina, ou nas entrelinhas desta crônica juvenil.

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