Por Ana Paula Perissé
eu salvaria o fogo do meu silêncio
constante
do meu desejo inquieto
que solicita a diferença
para poder ser aquilo que não sei
ainda.
Somente quando o homem de barro
desperta
a bailarina se atreve a dançar
seus passos mais belos.
( a dança da memória)
À beira de completar anos
descobri o sorriso do meu pai
por força de um acaso
(só quando nos temos mortos
é que o sorriso nos chega desta forma
talvez, verdadeira...)
O homem que já se foi
é aquele que me revela o efêmero do meu sofrimento
e a distância do não poder tocar
é que me apresenta nuances novas
de mim
através de um sorriso instantâneo
impresso em imagem despretensiosa
uma forma de sorrir que adquiro
vivendo, aniversariando,
e que me dou conta
só agora
olhando para teu sorriso distante
perdido no tempo de um papel fotográfico
envelhecido
como nós....
sem ti.
Ele não estava lá
nem eu
i'm not there, Bob Dylan
benevolência cedida através de uma certa dor.
Minha dor de não estar
de viver estando
sendo tantas para tantos
todavia sempre buscando a unidade perdida.
A diferença do sorriso do meu pai
àquela época
está na minha face
hoje
à busca pela poesia que sobrevoa
sôfrega
nos vazios do tempo nu,
tempo sincero e exposto
às deformações das areias que vagueiam
nos desertos de nós.
Faço anos, pai.