Por Amilcar
Neves*
Sábado pela manhã é ocasião
excelente para soltar balão. Pelo menos em Santa Catarina. Balão de ensaio. Por
causa da explosão das redes sociais. No Estado, os jornais de domingo saem em edição
única com os de sábado ou chegam às ruas na metade da manhã de sábado. Assim,
uma boa notícia publicada sábado de manhã em algum blogue no qual as pessoas
confiem rende uma porção de comentários antes de ser impressa na segunda. Se a
repercussão não for a esperada pelo emissor, a notícia não é confirmada. Vira
boato e não chega a ser impressa.
Talvez seja isso o que aconteceu.
Ou talvez não, e pode ser que a notícia ainda se confirme nos próximos dias.
Então terá sido um furo do jornalista que antecipou os acontecimentos com tanta
antecedência. Um balão de ensaio eficiente promove o candidato a um cargo de
confiança, e ao menos lhe confere poder de barganha para negociar eventual
desistência, ou queima de vez suas pretensões. Pode servir também para fritar
em fogo brando, quase frio, o ocupante do cargo ambicionado.
O fato é que, no sábado de manhã,
o jornalista Moacir Pereira, colunista do DC, anunciou no seu blogue a
troca na Secretaria de Turismo, Cultura e Esporte. Sairia Valdir Walendowsky e
entraria Felipe Mello. Substituir secretários ou ministros é evento corriqueiro
em qualquer democracia. O problema surge quando esse se torna o sexto
secretário em 3 anos e 3 meses de governo. Se já não fosse problema suficiente
uma mesma Secretaria ocupar-se de três áreas tão distintas com um organograma
que mistura as três "especialidades" até o segundo nível hierárquico.
A diferenciação se dá apenas a partir dos cargos gerenciais. O resultado é uma
Secretaria em que não se sente o cheiro da cultura. Nem do esporte. Nem do
turismo. E os agentes dessas três atividades, os membros da sociedade civil
organizada, as pessoas que fazem esses setores acontecer, estão roucos de tanto
pedir secretarias exclusivas.
Mas não adianta. Há uma teimosia,
uma cisma, uma birra incrustada nas cabeças burocráticas. Pensam, talvez, que
se pretendam três secretarias com a complexidade de uma Educação. O que se quer
apenas é foco. Especialização. Gente que saiba do que se está falando e conheça
as pessoas físicas e jurídicas que fazem cultura, e esporte, e turismo.
O nome de sábado é estranho às
três atividades. As reações foram imediatas e indignadas. Leram-se nas redes
sociais declarações veementes, entre outros, de conselheiros estaduais de
esporte e de cultura. O ventilado é filho do deputado federal que é dono do PR
em Santa Catarina, sigla que se encantou pelo maravilhoso projeto de reeleição
do governador e decidiu apoiá-lo com entusiasmo. Precisa, pois, ser
recompensada por tamanhas dedicação e entrega.
Na contramão dos compromissos
oficiais assinados com o Governo Federal, o governador ameaça, através de leis
que fez aprovar na Assembleia em dezembro passado, com o esvaziamento literal
dos fundos de incentivo ao turismo, ao esporte e à cultura: a qualquer momento,
por meio de um artifício banal qualquer, seu governo pode meter a mão no
dinheiro dos fundos, aniquilando as três áreas de uma penada só. Esvazia os
conselhos. E senta-se sobre os três planos estaduais.
Enquanto isso, o secretário atual
(atual até a segunda-feira, data desta crônica) acumula as presidências da
Santur, de onde procede, e da Fundação Catarinense de Cultura, de fato acéfala
há nove meses. Balão de ensaio ou não, falta seriedade à brincadeira toda.
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