Por Mayanna Velame
Deixo tudo para trás: desligo a TV, esqueço a internet e
escondo o telefone. Pego então uma caneta azul e um caderno surrado, sem dono.
No silêncio que me invade, e nos sentimentos que me
distraem, recolho-me para dentro de mim mesma; na tentativa de extrair palavras
para esta crônica.
Debruçada sobre a mesa da varanda, escuto o ronco
longínquo dos carros (que cruzam a cidade). No jardim, grilos cricrilam e sapos
coaxam. No céu, relâmpagos iluminam a morada dos anjos. E aviões desaparecem no
horizonte, que se projeta diante dos meus olhos.
No cintilar das estrelas, a noite se torna mais poética, viva,
serena e o meu coração mais sensível quando observo as luzes que clareiam as
ruas.
Sirenes, buzinas, vozes perdidas – a trilha-sonora da
escuridão ecoa nos ouvidos. Rascunho frases. Busco palavras para compor esta crônica.
Elas, entretanto, não transbordam o papel. As palavras apenas caem, gota a gota,
justamente para eu colocá-las em seus devidos lugares. Sem medo e sem pressa.
Assim pensei na minha primeira crônica: que ela fosse
desprovida de política, economia e qualquer assunto social; mas farta de
lirismo, amor e paz. Uma crônica que provoque riso ou choro no leitor – fazendo-o
esquecer da corrupção e dos enganos que atormentam nosso coração. Uma crônica
singela, sem palavras buriladas, ou difíceis de serem encontradas no dicionário.
Parece complicado cerrar os olhos para a realidade. No
entanto, as palavras são escritas (e ditas) para sonharmos; mesmo que seja por
alguns minutos, dias ou horas.
Fecho meu caderno. Já não tenho mais o que escrever.
Respiro fundo, estico os braços, levanto-me da cadeira, esquadrinho o céu e suas
joias. Nuvens ruborizadas visitam o espaço celestial.
Quero minhas palavras soltas e livres, como pássaros
selvagens. Não quero dominá-las. Desejo que elas alcancem um voo mais alto, perfeito.
E que o vento – mesmo de mansinho – possa soprá-las de Norte a Sul.
Quem sabe elas cruzem os meridianos, atravessando oceanos
e mares. Derrubem fortalezas, conquistem novos mundos e corações saltitantes; desejosos
por viver.
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