sexta-feira, 30 de maio de 2014

Primeira crônica

Por Mayanna Velame
 
 

 
Deixo tudo para trás: desligo a TV, esqueço a internet e escondo o telefone. Pego então uma caneta azul e um caderno surrado, sem dono. 
 
No silêncio que me invade, e nos sentimentos que me distraem, recolho-me para dentro de mim mesma; na tentativa de extrair palavras para esta crônica. 
 
Debruçada sobre a mesa da varanda, escuto o ronco longínquo dos carros (que cruzam a cidade). No jardim, grilos cricrilam e sapos coaxam. No céu, relâmpagos iluminam a morada dos anjos. E aviões desaparecem no horizonte, que se projeta diante dos meus olhos. 
 
No cintilar das estrelas, a noite se torna mais poética, viva, serena e o meu coração mais sensível quando observo as luzes que clareiam as ruas. 
 
Sirenes, buzinas, vozes perdidas – a trilha-sonora da escuridão ecoa nos ouvidos. Rascunho frases. Busco palavras para compor esta crônica. Elas, entretanto, não transbordam o papel. As palavras apenas caem, gota a gota, justamente para eu colocá-las em seus devidos lugares. Sem medo e sem pressa. 
 
Assim pensei na minha primeira crônica: que ela fosse desprovida de política, economia e qualquer assunto social; mas farta de lirismo, amor e paz. Uma crônica que provoque riso ou choro no leitor – fazendo-o esquecer da corrupção e dos enganos que atormentam nosso coração. Uma crônica singela, sem palavras buriladas, ou difíceis de serem encontradas no dicionário. 
 
Parece complicado cerrar os olhos para a realidade. No entanto, as palavras são escritas (e ditas) para sonharmos; mesmo que seja por alguns minutos, dias ou horas. 
 
Fecho meu caderno. Já não tenho mais o que escrever. Respiro fundo, estico os braços, levanto-me da cadeira, esquadrinho o céu e suas joias. Nuvens ruborizadas visitam o espaço celestial. 
 
Quero minhas palavras soltas e livres, como pássaros selvagens. Não quero dominá-las. Desejo que elas alcancem um voo mais alto, perfeito. E que o vento – mesmo de mansinho – possa soprá-las de Norte a Sul. 
 
Quem sabe elas cruzem os meridianos, atravessando oceanos e mares. Derrubem fortalezas, conquistem novos mundos e corações saltitantes; desejosos por viver.
 

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