Por
Amilcar Neves*
Às sete horas da manhã de
segunda-feira já estavam a bordo da perua da Fundação Catarinense de Cultura
com destino a São Francisco do Sul, bem no Norte de Santa Catarina seguindo a
linha do mar. São Francisco - ilha que virou istmo, cidade que se orgulha de
ser a terceira mais antiga do Brasil, centro
histórico tombado pelo Patrimônio Histórico e Artístico Nacional, casario em
estilo colonial português ladeando ruelas estreitas, berço embalado pelas
marolas suaves da Baía de Babitonga, cenário pintado em ricos tons de verde por
amplas reservas da Mata Atlântica, economia movida pelos portos existentes no
interior da baía, defronte à cidade.
Cinco conselheiros
estaduais de cultura em viagem dirigem-se ao IV Fórum Catarinense de Gestores
Municipais de Cultura, realizado num hotel da Praia da Figueira nos dias 24 e
25 de março; outros chegam de Joinville, ali ao lado, e de Chapecó. A
presidente do Conselho e diretora da Fundação, com dois funcionários, eram
esperados na van e no fórum mas não aparecem. Uma lástima porque ela
perdeu a calorosa recepção que lhe haviam preparado. Soube-se depois que ficou
doente; ao que parece, para alívio e gáudio dos seus amigos e admiradores, sem
maior gravidade.
O evento reuniu gente do
Ministério da Cultura, da Federação Catarinense de Municípios, da sua congênere
gaúcha e de administradores municipais de cultura provenientes de mais de 120
(dos 295) municípios catarinenses. Secretários, diretores e gerentes de
Cultura, portanto, das esferas federal e municipal, além de um deputado
estadual (embora nenhum vereador, sequer da cidade que sediou o encontro,
aberto pelo prefeito municipal), que muito falaram e muito ouviram. E ninguém -
ninguém! - do Governo do Estado, apesar de dois nomes terem sido confirmados
como participantes de uma importante mesa redonda. Infelizmente, a diretora de
Políticas Integradas do Lazer, da Secretaria estadual, não encontrou ocasião,
até o início dos debates da mesa, para justificar sua ausência. Paciência,
deixou de desfrutar um acolhimento ainda mais fervoroso do que o reservado à
sua colega. Lazer, na nomenclatura peculiar usada pelo Executivo catarinense,
quer significar as atividades profissionais empreendidas por agentes de turismo,
de cultura e de esporte.
Do lado de fora da sala
de convenções, calmo e sereno, o mar esparrama-se dali até o horizonte. Logo
antes da Barra Norte da Baía de Babitonga, na margem oposta, desenham-se contra
o céu os guindastes e equipamentos do moderno porto de Itapoá. Em direção ao
Centro, surge o porto público de São Francisco do Sul com seus terminais
privados. Mais para o interior da Babitonga, um projeto de 250 milhões de reais
"prevê a instalação de uma ponte de quase 1,5 quilômetro sobre as águas da
baía, com dois píeres para atracação de barcaças e navios cargueiros",
segundo informa o Estadão de domingo. Teme-se que espécies ameaçadas de
extinção sejam afetadas pela construção e operação do porto chamado de Mar
Azul, como a toninha (um tipo de golfinho), o boto-cinza, a tartaruga-verde e o
mero.
Afirma o pescador Adenir
Correia de Mello que "o melhor lugar de pesca do camarão na baía é
justamente onde eles querem colocar o porto".
Já dona Sônia Rocha
prefere sentar-se com o marido num banco de praça virado para o mar a fim de
apreciar o sol caindo por trás das montanhas e dourando as águas da baía:
"Agora, imagine esse cenário maravilhoso com um monte de navio de carga
passando no meio".
* Crônica
publicada no jornal "Diário Catarinense" de 26.03.14
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