Por Meriam Lazaro
Noite estrelada sobre o rio. Cada estrela das Três Marias
representa uma pessoa por quem peço pela saúde e agradeço pelas
melhoras, noite após noite, antes de dormir. Estrelas soltas simbolizam
outras pessoas e comunidades cuja prece é feita pelo bem comum. Mas se
não há estrelas? A paisagem de prece é sempre bela. Há pinheiros, céu
cinza, luzes de faróis e das torres de TV, fios condutores. Acima de
tudo há o Mistério, que costumamos chamar Deus. Há tantos nomes para
Ele... A noite, no entanto, está mais para um quadro de Vincent van Gogh.
Na tela, vejo a noite sobre o Ródano. Ou passeio pela rua dos bares,
encimada de estrelas, na bela Paris. Espanto-me com um gato enorme, que
tenta saltar para o fio de luz na rua. Por receio de que venha a ser
eletrocutado, grito para afugentá-lo! Não há possibilidade de me ouvir,
com o passar barulhento de um caminhão. O gato insiste em saltar, até
que consegue. Seu intento é preparar uma armadilha para passarinhos.
Utiliza um anzol, presumivelmente com isca, que prende ao fio da luz com
um fio transparente. Fica de tocaia no asfalto. Logo um passarinho é
preso na armadilha. Outro passarinho vem brincar com o primeiro, mas voa
para longe ao vê-lo ser içado pelo gato. Depois da pescaria aérea, vejo
apenas uma pena bailarina que se perde nas brumas do sonho. Lembro-me
da caixa de bombons de Forrest Gump. Nunca se sabe que surpresa a noite nos trará.
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