quarta-feira, 19 de dezembro de 2012

Retrospectiva Literária 2012

Por Fabio Ramos


A tradição natalina não fica completa sem as inúmeras listas de melhores e piores do ano! Vou seguir o caminho da correnteza (e dos jornalistas com falta de boas pautas) e bombardeá-los com a minha retrospectiva literária de 2012. Logo abaixo, eu selecionei alguns livros lidos nos últimos 12 meses e teci comentários sobre os mesmos.
 
 
1- O Chefe, de Ivo Patarra
A obra colossal de Ivo Patarra investiga Lula, centrando-se no escândalo do mensalão. O autor embasa seus argumentos com números e evidências consistentes. Ele até assume – em determinado trecho do livro – que a citação de tantas cifras tornava a leitura cansativa (mas pede paciência ao leitor e continua elencando os números). Na abertura, Patarra questiona porque o então presidente nomeou Mangabeira Unger como ministro após este afirmar num artigo que "o governo Lula é o mais corrupto de nossa história nacional". A pergunta é respondida no final da obra.

 
2- Cinema: Trajetória no Subdesenvolvimento,
de Paulo Emílio Sales Gomes
Rápido panorama do cinema brasileiro desde os primórdios.
Aqui, a tese defendida por Paulo Emílio sustenta que o subdesenvolvimento no Brasil também é refletido em nosso cinema (como exemplo disso, ele afirma que nós atingimos o ápice do cinema mudo quando o mundo inteiro já tinha aderido ao cinema falado). Ou seja: estamos sempre na vanguarda do atraso! O clássico "Limite", de Mário Peixoto, é citado en passant e faz-se uma equivocada associação entre Luiz Sergio Person e o Cinema Novo. Apesar disso, é uma excelente
reflexão sobre o cinema brasileiro.
 
 
3- Deus Foi Almoçar, de Ferréz
Isso é um esboço de livro! Ao contrário dos trabalhos anteriores de Ferréz, agora a história foca em apenas um personagem. Segue-se uma profusão de ideias mal trabalhadas e situações que levam a lugar nenhum. Esse protagonista desinteressante (que lava o rosto o tempo inteiro!) contamina o leitor com tamanho marasmo. Não fosse o bastante, ainda é mal escrito. Nem mesmo a revisora foi capaz de consertar erros grosseiros como "sessente" (pg. 28, ao invés de "sessenta"), "em todos o capítulos" (pg. 222) ou definir se a forma correta é "buceta" (pg. 177) ou "boceta" (pg. 201). Esse é, disparado, o pior livro do ano!
  
 
4- Cine Galante – o Bilhete Azul,
Passaporte para a Liberdade, de Manuela Galante
Em depoimento à esposa Manuela, Antonio Polo Galante rememora sua vida. Mas o foco da obra não são os filmes produzidos na Boca do Lixo, e sim a trajetória pessoal de Galante. O livro conta como o órfão criado no Juizado de Menores – onde seu nome era apenas um número – tornou-se produtor cinematográfico. Essa e outras histórias maravilhosas fazem parte de "Cine Galante", que é leitura obrigatória a todos os entusiastas do cinema brasileiro.
 
5- O Brasil Tem Jeito?, de Arthur Ituassu e Rodrigo de Almeida (org.)
A partir da pergunta que dá nome ao livro, alguns pensadores escrevem sobre os problemas crônicos do país (como corrupção, concentração de renda, privilégios, violência). Os ensaios giram em torno dessas questões; exceto o de Fabiano Santos. Seu texto é um amontoado de lugares comuns e argumentações torpes. Além de fugir do tema proposto, ele desenvolve suas ideias usando termos como "verdade nua e crua", "fato incontestável" e reitera afirmações com um simplório "isso é óbvio".
Já não bastasse possuir um claro viés pró-PT, o ensaio afirma que uma terceira via para a dicotomia PT-PSDB é "tão frágil quanto perigosa" e ainda chega ao cúmulo de justificar os desvios de ética do governo petista; afirmando que a corrupção no país é histórica e "de difícil solução no curto prazo". Quanta bobagem... A publicação ganharia muito com a exclusão desse artigo tendencioso e mal escrito.
  
 
6- Figurinha Difícil: Pornografando e Subvertendo, de Plínio Marcos
O livro "Figurinha Difícil - Pornografando e Subvertendo" é uma compilação de crônicas escritas por Plínio Marcos. Ele descreve o convívio ao lado de figuras como Procópio Ferreira, Cacilda Becker, Geraldo Filme, Toniquinho Batuqueiro... Sem esquecer os anônimos com quem conviveu (e que retratava em suas obras):
macumbeiros, malandros, bichas etc.
Em um de seus arroubos verbais, Plínio dispara:
"Sabe, não é fácil vender livro em terra de analfabeto com fome".
  
 
 
 
7- A Travessia Dourada, de Sirdar Ikbal Ali Shah
As viagens pelo Oriente costuram as diversas narrativas presentes no livro. Os valores religiosos estão sempre ali. No capítulo sobre a chegada à Meca, por exemplo, temos apenas uma descrição do que os viajantes presenciam no local sagrado (e as histórias são retomadas após esse relato). Os melhores contos são, realmente, os primeiros. Entre os meus favoritos, recomendo "Alimento do Paraíso" e "O Homem que Fazia Ouro". Em "O Pulso da Princesa Banu", o autor faz referência ao clássico "As Mil e Uma Noites".
  
 
8- Trilha Estreita ao Confim, de Basho
Nessa edição, são reunidos os três principais relatos de viagem do poeta japonês: "Visita ao Santuário de Kashima", "Visita ao Sarashina" e "Trilha Estreita ao Confim" (que dá título ao livro). Seguindo os preceitos do zen budismo, Basho percorre lugares longínquos a pé. Cada paisagem/pessoa que conhece inspira uma série de haikais. Os textos foram traduzidos diretamente do japonês por Kimi Takenaka e Alberto Marsicano (ele mesmo, o sitarista discípulo de Ravi Shankar). Ainda conta com uma biografia do poeta e um panorama do haikai no Brasil.
 
 
9- Cartas a um Jovem Poeta, de Rainer Maria Rilke
Nesse livro, temos a correspondência trocada entre Rilke e Franz Kappus (o tal jovem poeta mencionado no título). Kappus pedia conselhos ao já famoso poeta sobre seus versos. Rilke foi de uma generosidade extrema: além de responder aos questionamentos do rapaz, ele expôs sua visão de mundo sobre os mais diversos assuntos, entre os quais: solidão, Deus, relacionamentos, a poesia, o ato de escrever... Eu recomendo a leitura!


 
10- Quando Meu Pai se Encontrou com o ET,
Fazia um Dia Quente, de Lourenço Mutarelli
É o retorno de Mutarelli ao universo dos quadrinhos. Com um desenho por página, o livro ilustrado retrata a vida de um velho aposentado (cuja história é contada em flashback por seu filho). É bem menos incendiário que outros títulos do autor. A obra é dedicada a Marçal Aquino.


2 comentários :

  1. OLÁ! BOAS ESCOLHAS, BEM DIVERSAS E AO MESMO TEMPO INTERLIGADAS. Beijo e ótima quarta!

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    1. Eu leio de tudo, Dani! Para encerrar o ano, nada melhor (ou pior) do que uma retrospectiva, não é? Beijão :-)

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