quinta-feira, 20 de dezembro de 2012

Dessas, Daquelas,
De Todas que Afogam Suas Amélias

Por Rayane Medeiros
 

“Eu quero mais é me abrir
E que essa vida entre assim
Como se fosse o sol
Desvirginando a madrugada”
(Não Dá Mais Pra Segurar [Explode Coração], Gonzaguinha)

 
 

          Ela é dessas de vida fácil. Não se vende. Entrega-se por paixão às aventuras; aos amores impossíveis; às carências incuráveis. Nunca a viram chorar. Nunca. Não porque a tristeza não tenha lhe visitado alguma vez. Em verdade, mente para si mesma o quanto é inquebrantável. Em noites de solidão, engole as amarguras num copo com gelo e Rum. É dessas que se apega aos vícios para preencher vazios. 
 
          Enquanto criança, foram os livros os únicos amigos que a timidez a permitiu ter. Não falava, não sorria, sequer piscava os olhos. Suspeito que em momentos de sociabilidade, não tenha respirado. Era daquelas que passavam despercebidas, sem nada acrescentar
 
          Chegou na juventude como foi em toda sua vida: invisível. Foi num desses dias em que se é preferível não levantar, que ela o conheceu. Deu com ele na segunda esquina, quando ia à padaria, como todos os dias fazia logo bem cedo. Poderia ser mais um, entretanto, ele esbarrou, parou, pediu desculpas, ofereceu um café. Ela desnorteada, piscou, tentou um sorriso que insistia não querer sair. Disse sim com as feições que lhe foram cabíveis. Finalmente respirou.  
 
          Ele é daqueles que, mesmo se a beleza não o tivesse abraçado, seria igualmente irresistível. Voz de sussurro ao acordar; dentes à mostra tão alinhados e despidos de vergonha quanto os olhos deixando a alma saltar em euforia.  
 
          Ele a viu, a desejou, a conquistou, mas nunca a amou. É desses homens que têm o coração impenetrável. Não duvide se eu disser que ele sofre. Sim, meus caros, ele sofre! Sofre por nunca conseguir amar. E não há sofrimento igual, ao de nunca alcançar o maior de todos os deuses. E quando viu aquela jovem que o medo a impedia até mesmo de sorrir, acreditou que podiam salvar um ao outro. Em vão.  
 
          Entregaram-se. Corromperam-se. Mas não se amaram. O amor era aquele bicho selvagem que quanto mais o perseguiam, mais ele se embrenhava no mato. Amor é bicho esperto. E, mesmo se capturado, não há cabresto que o consiga prender no peito. 
 
          Cansaram-se. Como tudo que não nos basta, nos cansa irreversivelmente. Ele partiu assim como veio. Pegou um novo rumo logo que chegou na esquina onde o acaso topou com eles. Ganhou o mundo. Nunca volta. Por que voltaria?
 
          Ela, dessas que nunca choram. Procurou nos homens a felicidade que nunca foi capaz de encontrar em si mesma. Mas, quem sabe um dia? Enquanto isso esbarra em bares; noites frias; bocas doentias; mãos frívolas infiéis; amores que nunca serão seus. Nunca.  

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