Por
Rosimeire Soares
Desde a minha adolescência, observo
o comportamento das pessoas em final de ano e dias que antecedem o Natal. As
pessoas enchem o peito e pronunciam com grande autoridade as expressões “Feliz
Ano Novo!” e “Feliz Natal!”. Confesso que a primeira eu compreendo, já que
fecha mais um ciclo e outro se inicia. Dessa forma, é natural que os indivíduos
façam planos e desejem um bom ano novo para o outro, mas as felicitações do
Natal não são claras para mim.
Por que feliz Natal, se os
significados não são os mesmos para todos? Para uns, Natal é símbolo de reunião
de família, comunhão, presentes, abraços. Para outros, o significado é
religioso, é nascimento do Salvador. Para outros, essa conotação é totalmente
diferenciada: oportunidade de ganhar dinheiro, folga, sossego, descanso ou
nenhuma delas. Nestes casos, o aspecto religioso passa distante.
Está aí a minha inquietação. Quando
alguém deseja feliz Natal para outro, nem sabe o que deseja. E pior, nem sabe o
que o outro recebeu na frase optativa. Não desejo feliz natal para ninguém.
Acho superficial demais. Para ser sincera, há momentos que eu até digo a
expressão, pois é algo quase obrigatório: todos dizem, então sem o que dizer,
falo, mas não sei exatamente o que estou desejando.
Quem está em família, recebe e dá
presentes, tem um feliz natal? Aquele que, por possuir uma família
disfuncional, passa esse dia só (os amigos estão todos em família) não teve um
natal feliz? De que nos adianta o natal feliz? Não sejamos hipócritas, a data é
mais comercial do que religiosa. Assim, ao desejar “feliz natal” a alguém já
está implícita a pergunta: “já comprou presentes?”, “já recebeu atenção dos
seus entes?”, “Você não é querido?”.
Na noite de 24 de dezembro, nos
shoppings do Brasil inteiro, há pessoas comprando. Veja o discurso do
funcionário da loja ao vender um presente às 22h e 45 min: “Obrigado, feliz
Natal!”. O cliente gentilmente responde: “Feliz Natal para você também!” Ele, o
cliente, está indo para casa, ceia já posta, com peru e vinho, só faltava o
último presente. O comerciário, exausto por dias trabalhando numa carga horária
maior, deseja um chuveiro de água quente. Discurso vazio, mecânico,
obrigatório.
Algo é certo: na noite de natal, as
pessoas se comovem mais com a miséria alheia, até montam cestas e presenteiam
pessoas necessitadas, mas isso também é hipocrisia, desencargo de consciência.
Por ser momento de reflexão, descobrem que o pouco que tem é mais do que o que
muitos têm. Além disso, todos desejam feliz natal, então também sentem-se obrigados
a fazer o natal ser feliz, não para o outro que recebe a simbólica
solidariedade, mas para o ser provedor já que assim ele passa o natal... mais
feliz.
Qual será o sentido do natal para aquele
menino que fica na rua, desprovido de lar, de família, de brinquedo, de comida?
Qual será o sentido do natal para aquele menino que possui um lar, família,
comida farta, brinquedos de última geração?
Não consigo entender com clareza o
que realmente é dito, desejado, nesses dias festivos. Deseja-se para os outros
ou para si mesmo?
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