segunda-feira, 10 de dezembro de 2012

Feliz Natal

Por Rosimeire Soares
      
 

            Desde a minha adolescência, observo o comportamento das pessoas em final de ano e dias que antecedem o Natal. As pessoas enchem o peito e pronunciam com grande autoridade as expressões “Feliz Ano Novo!” e “Feliz Natal!”. Confesso que a primeira eu compreendo, já que fecha mais um ciclo e outro se inicia. Dessa forma, é natural que os indivíduos façam planos e desejem um bom ano novo para o outro, mas as felicitações do Natal não são claras para mim.
 
            Por que feliz Natal, se os significados não são os mesmos para todos? Para uns, Natal é símbolo de reunião de família, comunhão, presentes, abraços. Para outros, o significado é religioso, é nascimento do Salvador. Para outros, essa conotação é totalmente diferenciada: oportunidade de ganhar dinheiro, folga, sossego, descanso ou nenhuma delas. Nestes casos, o aspecto religioso passa distante.

            Está aí a minha inquietação. Quando alguém deseja feliz Natal para outro, nem sabe o que deseja. E pior, nem sabe o que o outro recebeu na frase optativa. Não desejo feliz natal para ninguém. Acho superficial demais. Para ser sincera, há momentos que eu até digo a expressão, pois é algo quase obrigatório: todos dizem, então sem o que dizer, falo, mas não sei exatamente o que estou desejando. 

            Quem está em família, recebe e dá presentes, tem um feliz natal? Aquele que, por possuir uma família disfuncional, passa esse dia só (os amigos estão todos em família) não teve um natal feliz? De que nos adianta o natal feliz? Não sejamos hipócritas, a data é mais comercial do que religiosa. Assim, ao desejar “feliz natal” a alguém já está implícita a pergunta: “já comprou presentes?”, “já recebeu atenção dos seus entes?”, “Você não é querido?”. 

            Na noite de 24 de dezembro, nos shoppings do Brasil inteiro, há pessoas comprando. Veja o discurso do funcionário da loja ao vender um presente às 22h e 45 min: “Obrigado, feliz Natal!”. O cliente gentilmente responde: “Feliz Natal para você também!” Ele, o cliente, está indo para casa, ceia já posta, com peru e vinho, só faltava o último presente. O comerciário, exausto por dias trabalhando numa carga horária maior, deseja um chuveiro de água quente. Discurso vazio, mecânico, obrigatório. 

            Algo é certo: na noite de natal, as pessoas se comovem mais com a miséria alheia, até montam cestas e presenteiam pessoas necessitadas, mas isso também é hipocrisia, desencargo de consciência. Por ser momento de reflexão, descobrem que o pouco que tem é mais do que o que muitos têm. Além disso, todos desejam feliz natal, então também sentem-se obrigados a fazer o natal ser feliz, não para o outro que recebe a simbólica solidariedade, mas para o ser provedor já que assim ele passa o natal... mais feliz. 

 Qual será o sentido do natal para aquele menino que fica na rua, desprovido de lar, de família, de brinquedo, de comida? Qual será o sentido do natal para aquele menino que possui um lar, família, comida farta, brinquedos de última geração? 

            Não consigo entender com clareza o que realmente é dito, desejado, nesses dias festivos. Deseja-se para os outros ou para si mesmo?
 
            Continuarei a observar. Enquanto isso: Feliz Natal!!!!

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