terça-feira, 18 de dezembro de 2012

Meu Coração Alvinegro e Verde

Por Denise Fernandes

 
          Um lado meu é corintiano, o outro palmeirense. Sinto a desarmonia dessa união fatal, verde, branca, preta, culpa preta – branca – verde.

          Sentimentos tão esverdeados, não vou a nenhuma comemoração. E vou a todas. Sou muito povão, tão povão que é difícil eu me achar. E todas as vezes que me sinto perdida, e são tantas, me sinto tão perdida que assisto jogos de futebol. Não é que eu entenda porque estou tentando entender há 46 anos. Ainda acho impedimento algo super esotérico. É que nem bola que bate na trave, acho o máximo. A dúvida para que lado a bola foi e porquê. Esses porquês que matam a gente. Não sei se é nessa parte que o futebol vira o ópio do povo, mas que futebol dá barato, isso dá mesmo. Ninguém se incomoda de medir, mas acabo de encontrar um amigo que ficou anos numa autoproibição em relação ao futebol: ele percebeu que ficava tão louco que só se proibindo.
          Não sei se já inventaram clínica para esse tipo de situação, mas aos especialistas (que há sempre em algum lugar, acho que tem mais especialistas que moscas em São Paulo), gostaria de saber o que pode ser usado contra essa paixão doente. E por que o futebol dá tanto barato? É porque a bolinha é pequenina e o homem se sente grande e bom diante da bolinha? É por que o entra e sai da bolinha parece sexo, a bola é falo e a gente gosta da bola porque gosta do falo? Freud, Jung, Reich, Lacan: me ajudem!!! O que vocês acham do futebol? Será que algum deles foi viciado em futebol? Será que gostar de time da segunda divisão tem algum significado, compromete o Édipo, o dinamismo da psique humana? Será que é "complexo" ser corintiana, palmeirense...
 
           Ou será que os jogadores que nos animam? Porque tem horas que parece que os jogadores esqueceram da bola... Será que a gente também esquece a bola e fica só curtindo os jogadores, a coxa, a meia, a personalidade de cada um, a fofoca geral que construímos sobre a História? Tem horas que me sinto quase da família dos jogadores. Estou com raiva do Dunga até agora. Tenho uma implicância com ele que Freud não explica porque terapia é muito caro para eu perder tempo com meus sentimentos pelo Dunga. Deus que me perdoe porque ainda não o perdoei. Já pensou se ele ressurge no Corinthians ou no Palmeiras? Por mim, ele pode ir para o São Paulo, embora eu acho que nem o São Paulo merece.
 
           Meu sonho é ser comentarista esportiva desses programas pós-futebol. Fica aquela discussão quase filosófica sobre a bola, a família dos jogadores, a história do futebol.
 
           O que sei da história do futebol – e encontrei num livro – diz que a origem do esporte foi na China, e veio dos soldados comemorarem suas vitórias chutando o crânio dos inimigos. Que nojo! Mas agora que não são crânios inimigos, sinto ainda um ódio que salta no futebol, uma raiva e um "ópio". E tenho as mais doces memórias além de toda essa raiva. Do amor dos meus avôs pelo futebol, da constância deles nesse amor. Se meus avôs não tivessem o amor pelo futebol que tinham, nem sei se eu gostaria e respeitaria tanto eles. O amor pelo time abriu neles a porta do amor pela Vida. Só através desse Amor soube que aqueles homens grandes e maciços que foram meus avôs foram crianças também. Eles me contavam como o futebol entrou na vida deles cedo.

           Também olhar os jogos de futebol do meu filho fazem parte dos melhores momentos da minha vida.
           Talvez seja um gol, talvez seja porque tudo que rola sobre a terra cria um desenho, um poder ser, talvez porque seja absolutamente lindo ver um ser humano brincar com uma bola. Salvem-se todos os times, a bola, as traves, as brincadeiras e até o juiz!

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