Por Denise Fernandes
Um lado meu é corintiano,
o outro palmeirense. Sinto a desarmonia dessa união fatal, verde, branca,
preta, culpa preta – branca – verde.
Sentimentos tão esverdeados, não vou a nenhuma
comemoração. E vou a todas. Sou muito povão, tão povão que é difícil eu me
achar. E todas as vezes que me sinto perdida, e são tantas, me sinto tão
perdida que assisto jogos de futebol. Não é que eu entenda porque estou
tentando entender há 46 anos. Ainda acho impedimento algo super esotérico. É
que nem bola que bate na trave, acho o máximo. A dúvida para que lado a bola
foi e porquê. Esses porquês que matam a gente. Não sei se é nessa parte que o
futebol vira o ópio do povo, mas que futebol dá barato, isso dá mesmo. Ninguém
se incomoda de medir, mas acabo de encontrar um amigo que ficou anos numa
autoproibição em relação ao futebol: ele percebeu que ficava tão louco que só
se proibindo.
Não sei se já inventaram clínica para esse tipo de situação, mas
aos especialistas (que há sempre em algum lugar, acho que tem mais
especialistas que moscas em São Paulo), gostaria de saber o que pode ser usado
contra essa paixão doente. E por que o futebol dá tanto barato? É porque a
bolinha é pequenina e o homem se sente grande e bom diante da bolinha? É por que
o entra e sai da bolinha parece sexo, a bola é falo e a gente gosta da bola
porque gosta do falo? Freud, Jung, Reich, Lacan: me ajudem!!! O que vocês acham
do futebol? Será que algum deles foi viciado em futebol? Será que gostar de
time da segunda divisão tem algum significado, compromete o Édipo, o dinamismo
da psique humana? Será que é "complexo" ser corintiana,
palmeirense...
Ou será que os jogadores
que nos animam? Porque tem horas que parece que os jogadores esqueceram da bola...
Será que a gente também esquece a bola e fica só curtindo os jogadores, a coxa,
a meia, a personalidade de cada um, a fofoca geral que construímos sobre a
História? Tem horas que me sinto quase da família dos jogadores. Estou com
raiva do Dunga até agora. Tenho uma implicância com ele que Freud não explica
porque terapia é muito caro para eu perder tempo com meus sentimentos pelo
Dunga. Deus que me perdoe porque ainda não o perdoei. Já pensou se ele ressurge
no Corinthians ou no Palmeiras? Por mim, ele pode ir para o São Paulo, embora
eu acho que nem o São Paulo merece.
Meu sonho é ser
comentarista esportiva desses programas pós-futebol. Fica aquela discussão
quase filosófica sobre a bola, a família dos jogadores, a história do futebol.
O que sei da história do
futebol – e encontrei num livro – diz que a origem do esporte foi na China, e
veio dos soldados comemorarem suas vitórias chutando o crânio dos inimigos. Que
nojo! Mas agora que não são crânios inimigos, sinto ainda um ódio que salta no
futebol, uma raiva e um "ópio". E tenho as mais doces memórias além
de toda essa raiva. Do amor dos meus avôs pelo futebol, da constância deles
nesse amor. Se meus avôs não tivessem o amor pelo futebol que tinham, nem sei
se eu gostaria e respeitaria tanto eles. O amor pelo time abriu neles a porta
do amor pela Vida. Só através desse Amor soube que aqueles homens grandes e
maciços que foram meus avôs foram crianças também. Eles me contavam como o
futebol entrou na vida deles cedo.
Também
olhar os jogos de futebol do meu filho fazem parte dos melhores momentos da
minha vida.
Talvez
seja um gol, talvez seja porque tudo que rola sobre a terra cria um desenho, um
poder ser, talvez porque seja absolutamente lindo ver um ser humano brincar com
uma bola. Salvem-se todos os times, a bola, as traves, as brincadeiras e até o
juiz!
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