terça-feira, 2 de junho de 2015

Recado

Por Denise Fernandes




cantiga de ninar
 
cachorrinhos azuis
 
enquanto no sítio de sempre
 
você a cobra preta e amarela
 
é a família
 
a culpada
 
por tudo
 
enquanto o poder
 
apodrece
 
não quero nada
 
já disse que não quero nada
 
e aparece o Fernando Pessoa
 
vem o Plínio Marcos
 
querendo falar com a filha
 
já disse que não sou médium
 
não sou Nada
 
enquanto a Ana Cristina César
 
quer ser psicografada
 
pelos gatos
 
eu disse que não quero nada
 
e me vem a tabacaria
 
e Álvaro de Campos
 
estou tão só
 
e nem estou em Lisboa
 
revisited por mim
 
trinta e um de maio
 
de dois mil e quinze
 
em São Paulo
 
conectada em você e na cabala
 
virgem esculpida
 
em pedra
 
horóscopo
 
eu vou ler de trás
 
para frente
 
eu vou ganhar
 
nada
 
não vou guardar
 
e quando me for
 
serei o nada
 
dentro de outro nada
 
serei um livro
 
perdido
 
no mar
 
e enquanto as palavras se desfazem
 
virão os cânticos
 
as sereias os peixes
 
pequenos caranguejos
 
serei o mar.

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