sábado, 6 de junho de 2015

Minha história

Por Meriam Lazaro




Minha história é esse nome que hoje carrego comigo. Embora sem entrar num bar para virar a mesa e entornar os copos (como o personagem Jesus, da música do Chico), já berrei e briguei por ele. Tudo por causa de uma letrinha, quiçá um erro de registro, como constatei ao pedir a segunda via da certidão de nascimento há alguns anos. O documento veio com outra letrinha. E lá fui eu entrar com uma nova retificação de nome.


Ainda não era formada. Mas o juiz, não atentando para isso, determinou a alteração. O escrivão, na hora de lavrar a sentença, de uma forma muito educada e divertida, informou: o número da OAB que ali constava era de estagiária; e quem assinara a petição era “a própria”. Na verdade, a fúria era tamanha – e a pretensão também – que esqueci de pedir a uma amiga, já formada, que assinasse o documento comigo. Na época, isto foi motivo de muito riso. Era a certeza de que só iria me formar para corrigir este feito. Parece que, em parte, meus amigos tinham razão.


Na escola, até os colegas esperavam a hora da primeira chamada. O professor chamava do “A” ao “L”. Quando chegava no “M”, parava, corrigia o “erro” na caderneta, e me chamava Mírian (para o deleite de todos). Identificando-me ao telefone vida afora, volta e meia ouço a pergunta: “O teu nome é mesmo assim?”. Tenho vontade de responder: “Não. É que eu gosto de complicar, e depois passar três minutos explicando”.


Fora o tempo que eu não falava, e nem brigava por isto, são quase quarenta anos repetindo o nome, e ouvindo vários codinomes: Meg, Meri, Mig, Mirica, Marion, Muriel, Miiii, Mercedes e Vanessa.... Como a paciência – e o bom humor – faz muito bem para a pele, hoje atendo por qualquer coisa. É só escutar um desses nomes, que o pavilhão auditivo traduz três vezes, como o canto do galo (“qual-quer-coooisa!!”), ao que respondo pronta e operante.


Como se isso não bastasse, novamente me vi às voltas com o tal nome. Um nome simples, comum até, se considerarmos que apenas uma letrinha foi mudada, originária do hebraico, Maria, cujo significado é senhora. Fui tirar a segunda via da carteira de trabalho e apresentei a carteira de identidade, novinha em folha. Não é que a atendente implicou com o nome “errado” – e que eu estava muito velha? Que desaforo! Só tinha 18 anos na época.


E se, como Drummond no Poema de Sete Faces, eu me chamasse Raimunda!?... Não haveria rima, e nem seria a solução.

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