terça-feira, 30 de junho de 2015

Meu avô

Por Denise Fernandes




Tudo que sou, devo a meu avô: Ídio da Silva. Ele é minha raiz, minh'alma que voa. Ele é o Silêncio que rodeia as manhãs frias de São Paulo, as serpentes que nadam no lago do Ibirapuera, os inúmeros pássaros que voam na Universidade de São Paulo, os sapos que cantam e os vagalumes que encantam no sítio do meu pai em Santa Isabel, a árvore gigante no parque da Aclimação, que merece um abraço de vez em quando.

Sei que sou a Luz no fim do caminho Dele, a força, a Seiva. Meu avô Ídio da Silva é minha coluna vertebral, minha medula, meu senso de Justiça.

Graças ao meu avô, Ídio da Silva, sei que sempre fui brasileira, que não preciso ir à Europa, ou à China, para conhecer o Mundo!

Meu avô, Ídio da Silva, foi visionário, genial. Ele me dizia que faltava apenas dois territórios para ele conhecer o Brasil inteiro, mas agora, mas agora que sou avó também, não lembro mais... Ainda existem territórios? Não sei se era o Acre, ou Rondônia, ou Roraima. Quando adoeço, sinto saudades do meu avô, muitas saudades do seu riso forte, da sabedoria Infinita, da Paciência que Ele teve comigo. Nunca, nunca, ninguém mais teve paciência Comigo.

Só meu avô me Entendeu nessa Vida. Até agora.

Minha família não gosta que eu fale no meu Avô porque ele era alcoólatra e putanheiro. Segundo sua esposa, Olga Fernandes, meu avô era viciado em sexo.

Nas suas histórias e aventuras pelo Rio Amazonas, as lembranças dos nossos jogos de damas. A luz do meu Avô permite que a Chama não se apague em Mim. Para mim, ele foi como um Marco Polo no Brasil.

Meu avô é o Pijama confortável que coloco para dormir, o sono tranquilo que tenho quando me deixam dormir. Ele é minha Raiz, minhas sementes.

Quando tenho um sentimento de Solidão maior que o Mundo, bem maior do que os cem anos de solidão que Gabriel Garcia Márquez escreveu e viveu, meu avô é a Terra, a areia branca da praia, a solidão de olhar para o Infinito.

Se Vinícius de Moraes estivesse vivo, eu casaria com Ele. Mas, hoje, estou tão triste que não quero casar, nem pensar, só sentir o vazio imenso que meu Avô deixou quando me deixou aqui no planeta Terra. Foi meu Avô que me ensinou a respirar fundo para sentir o cheiro da Terra molhada. Foi Ele que me ensinou a pensar, não foi Descartes. Também me ensinou que a política é passageira. O que importa são os pássaros, as crianças, as flores, as sementes, as árvores poderosas que arrebentam as calçadas.

Foi meu avô, e não a televisão, que me ensinou que a Chuva é mais importante que o Dinheiro. Também me ensinou que a Solidão é destino, estrada, Caminho, Verdade. Dentro da gente mora um Anjo, e se chama... Puxa, não é que eu me esqueci? Estou ficando Velha!!!!!!

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