sábado, 8 de novembro de 2014

O jeitinho brasileiro

Por Meriam Lazaro
 
 

 
Tenho orgulho de muita coisa em meu país: povo hospitaleiro, caloroso, ainda pacífico, trabalhador, bem humorado etc. etc. Mas não me orgulho do jeitinho brasileiro. Deixem-me explicar. Já que estamos na rede mundial de computadores, vou utilizar o exemplo dos serviços de comunicação. Quem nunca precisou cancelar um serviço, pedir explicação sobre uma tarifa ou saber por que a &#¿$@ não funciona? Em momentos assim (aliás, horas assim) somos presenteados, primeiramente, com a saudação da secretária eletrônica. Em seguida, digitamos tudo que pedem em troca de protocolos quilométricos que para nossa maldição eterna nem sempre anotamos. A saga continua, quando somos transferidos de um para outro atendente, todos bem treinados para dar explicações mirabolantes, até que tu-tu-tu-tu...


Não pensem que as empresas de comunicação não tomam providências. De tanto receber insultos pelos consumidores (gente impaciente!) atendentes passam a sofrer de pânico e outros distúrbios. Aí são contratados profissionais para treiná-los a não levar as ofensas recebidas para o lado pessoal. Enquanto o departamento de explicação é ampliado para repetir a mesma ladainha para nossa penitência, o departamento de soluções de problemas continua reduzido e sempre a desejar maior número de pessoal e qualificação.  


Por que as empresas investem mais em explicações do que em soluções? Porque com esse jeitinho enchem os bolsos, as cuecas, etc. a nossa custa, enquanto não temos para onde correr em busca de qualidade. Com isto, não quero dizer que se possa faltar com respeito para com os atendentes ou para com qualquer pessoa, mas, sim, que também do nosso jeitinho cá do outro lado da linha deixamos a ira arrefecer e nos submetemos ao desrespeito. Verdade é que, apesar de abarrotados os órgãos de defesa do consumidor, os processos existentes representam muito pouco.
 

Alguém poderia dizer: - Ah, prefiro pagar para não me incomodar. Como não se incomodar!? Outro diria: - Pelo pouco que pago não vale a pena perder meu tempo reclamando. Não sejamos inocentes. Quantos dias por ano você trabalha para ter um péssimo serviço de comunicação? Some o seu salário líquido recebido por um ano e divida pelo número de dias úteis de trabalho do mesmo período. Assim, se você recebe anualmente R$ 28.000,00 e trabalha de segunda-feira a sábado, considerando 250 dias úteis ao ano, ganha pelo seu trabalho diário R$ 112,00. Caso você gaste R$ 66,66 com comunicação por mês, terá que trabalhar sete dias por ano para pagar por este serviço. Correndo o risco de soar moralista e nada original, concordo que reclamar por reclamar, assim como insultar pessoas, de nada adianta, mesmo que o vídeo da Judith quase nos mate de rir, mas se alguns vivem deitados em berço esplêndido não somos nós.

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