terça-feira, 25 de novembro de 2014

Aspas

Por Denise Fernandes




Tomei um café "boca de pito". Mesmo tendo parado de fumar, o tal do café ficou. Lá fora, fazia uma chuva "de molhar bobo". Também fazia um pouquinho de sol e pensei: "chuva e sol, casamento de espanhol", ou, "sol e chuva, casamento de viúva". Que preguiça, é domingo.


Tem horas que penso que todos os homens são "farinha do mesmo saco" e esse pensamento é péssimo, dá um desânimo. Tento fazer "pensamento positivo", mas começo a rir. Dá tanta ideia esquisita na minha cabeça... Na minha cabeça, o conceito de felicidade é tão simples que dá vontade de rir, e até penso que já sou feliz mesmo.

Quando comecei a ler, algo que me encantou foram as aspas. Achava que quando entendesse as aspas, iria entender muito do mundo, e assim foi. Um dia, comecei a fazer um caderno cheio de frases bonitas e pequenos textos que eu achava legais (todos copiados com aspas). Tinha orgulho do meu caderno e o carregava pela casa. Quem já teve um caderno assim, sabe a delícia que é.

Quando te encontrei, você estava de "saco cheio". Disse: Calma, "Água mole em pedra dura, tanto bate até tanto fura". Você disse "tá!", mas continuou nervoso, visivelmente irritado. Disse: "Desencana, que a vida engana". Você disse "Pau que nasce torto, morre torto". E eu não sei o que fazer.

Você me olhou com aquele olhar de "peixe morto", que eu gosto tanto. Você fica um "gato" quando me olha assim. Mesmo sabendo que "O Amor é cego", gosto tanto de te olhar, meu amor. Quando te olho, o que vejo se "O Amor é cego"? Será que vejo a mim quando penso que vejo você porque, com meus olhos cegos de amor, nunca te vejo? É o amor solidão?

Tem horas que penso que sim e torço para não ser domingo "pé de cachimbo", porque acho pior ficar triste no domingo, não sei por quê. Domingo é bom lembrar que sou feliz. Meu pai sempre dizia, "você não esquece a cabeça porque está grudada", e tem horas que esqueço mesmo coisas importantes, como quando esqueci a mala em casa e fui viajar sem uma peça de roupa. Só percebi quando cheguei no lugar que havia esquecido a mala. Mas nunca esqueço do meu pai e da minha mãe dizendo expressões, ditados e, com isso, ensinando muito. Como fiz perguntas na minha infância, eu devia agora me fazer mais perguntas, devia sacudir um pouco aquilo que está morno. "Quem espera, nunca alcança".

A gente não pode ter "o olho maior que a barriga", não dá certo. Mas quase nunca aquilo que a gente quer é pequeno, fácil e simples.

"Quem não arrisca, não petisca", por isso, arrisco escrevendo aqui. Vou "comendo pelas beiradas", para não queimar a boca – e nem a vida. "Quem ama o feio, bonito lhe parece". Nem isso eu sei, se você que acho bonito é realmente bonito ou não.

"Quem está na chuva, é para se molhar". Não quero ter medo de amar. Feio, bonito, tanto faz, sei que quero você.

"São Pedro está lavando o céu", agora a chuva é forte, tava precisando. "Nem só de pão vive o homem". Ele vive de água, bicho, aspas. O homem vive de alegria, essa estranha companheira dos dias felizes.

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