Por Amilcar
Neves*
Ele chegou e disse:
"É isso mesmo que estou te
contando. E está tudo registrado, qualquer um pode escutar, está na internet.
Se quiseres, te consigo um endereço eletrônico, tu te registras com um cadastro
básico, forneces o número de um cartão de crédito válido (a validade é
confirmada na hora) e recebes uma senha de acesso à gravação. Podes escutar o
papo todo cinco vezes.
"Foi uma reunião da
coordenação de campanha com os marqueteiros do candidato, alguém esqueceu um
celular aberto e a conversa foi toda digitalizada. Essas barbadas da tecnologia
moderna, não tem?
"O nosso princípio, eles
disseram, é claro: privatizar tudo e reduzir o Governo ao tamanho da diretoria
de uma estatal. Entregar tudo ao mercado, levando o filé quem for mais ágil,
mais apto, mais capaz, mais equipado, mais municiado. Estratégia de guerra, a
Lei de Darwin alijando o Novo Testamento inclusive nas questões sociais,
assistenciais, humanas, humanitárias e ambientais. Movimentos sociais e ONGs
que se adaptem aos novos tempos, tornando-se lucrativos pelos próprios pés, ou
que se explodam como deveriam ter feito desde sempre se fossem sérios. Então,
em oito anos - dois mandatos -, já teremos terceirizado totalmente os serviços
que faltavam, de educação, saúde e segurança, inaugurando o Grande Estado
Liberal, pioneiro de verdade no mundo.
"Se disserem que cheira,
diremos que é problema dele, não está prejudicando ninguém com isso; se
disserem que bateu na mulher, diremos que em problemas de casal ninguém pode se
meter; se disserem que construiu com dinheiro público administrado por ele um
aeroporto no quintal dele, que só ele usa, diremos que, historicamente,
aeroportos são os caminhos do progresso e do desenvolvimento; se... Diremos tanto,
eles disseram, que no fim todos acreditarão."
Olhou para mim e completou:
"Aceitas? Estou agenciando
senhas. Vais te deliciar com os detalhes do papo, com o estilo das frases."
Bronzes
Meu vizinho de porta no DC, o
Rafael Martini, comentou na edição de ontem deste jornal, a respeito do furto
na Praça XV de Novembro de quatro bustos de bronze de personalidades da Cultura
catarinense, ocorrido em 8 de agosto de 2013 (faltam 11 dias para o primeiro
aniversário da façanha), que "o inquérito que apura o sumiço das peças
deve ser arquivado por falta de indícios para localizar os autores do
crime".
Com todo o respeito que merece de
mim a Polícia de Santa Catarina, tenho o dever de discordar dessa conclusão
simplista e rogar pelo prosseguimento das investigações.
Por um simples motivo: na tarde
de sábado, a Casa de José Boiteux foi flagrada sem as duas placas de bronze,
arrancadas de sua parede externa, que indicavam ser ali a sede da Academia
Catarinense de Letras e do Instituto Histórico e Geográfico de SC.
Se os bronzeiros não descansam, a
Polícia é que não pode fazê-lo.
Isonomia
Há que sermos justos. E
transparentes, o sucesso do momento. Todo mundo se diz transparente,
independente da opacidade própria que carrega.
Outro dia, neste mesmo
interinado, comentei o sucesso que foi o retorno dos clubes catarinenses,
Séries A e B, aos campeonatos brasileiros de futebol logo na primeira rodada
após a Copa: todos os times ganharam os seus jogos, à exceção da Chapecoense,
que não jogou. Ainda assim, tão logo o fez, foi ao Morumbi e liquidou o São
Paulo por 1 a 0.
No sábado agora, porém, sobreveio
a ressaca: todos perderam por goleada ou semigoleada. Menos o Joinville, que
ficou na contagem mínima. O Criciúma tomou 3 a 1, em casa, do semilanterna
Vitória; a Chapecoense foi a Santos e retornou com 3 a 0 nas costas; o
Figueirense levou 5 a 0 do azul e branco Cruzeiro, em BH.
Se para todos perderem alguém
tinha que ganhar, o Avaí resolveu fazer 1 a 0 na casa do Joinville.
*Crônica publicada no jornal
"Diário Catarinense" de 28.07.14
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