Por Mayanna Velame
Aqui,
pelas bandas do lugar onde moro, existem dois rios chamados de Negro e de Solimões.
O primeiro é celebrado por suas águas escuras – em virtude da alta concentração
de ácidos húmicos e fúlvicos, provenientes da decomposição do húmus do solo que
escoa para o rio. Em consequência disso, o Negro é conhecido como um rio
“pobre” (pois ele quase não oferece alimento aos peixes).
Já
o segundo tem como característica uma água barrenta e turva, com aparência
lamacenta. Diferente do Negro, o Solimões possui pouco material orgânico. E,
com isso, sua acidez é menor – o que o torna propício para a pesca, os esportes
e as pesquisas.
Eles
são rios bem distintos: seja no teor, na química que os compõem, na tonalidade
de suas cores, na temperatura. No entanto, as diferenças não impedem a formação
do renomado Encontro das Águas, que recebe o nome de rio Amazonas.
Várias
explicações são dadas ao fenômeno. O Solimões é mais ligeiro e leve. Por isso,
suas águas não se misturam com as do rio Negro. Contudo, não nos surpreende as
questões e as explicações da ciência (em relação a esse extraordinário
acontecimento). O que nos encanta é a generosidade da natureza.
O
Negro e o Solimões não se excluem, não se agridem, não se devoram. Cada um sabe
seu lugar. Cada um respeita o espaço de suas respectivas águas.
O
Brasil precisa aprender mais com a natureza. Podemos não ter a mesma “química de
ideias” e opiniões, mas respeito – num país que se diz amistoso e simpático – é
essencial. As últimas eleições mostraram comportamentos intolerantes e
preconceituosos de eleitores. Votar no candidato A, B ou C não nos faz melhor
ou pior que ninguém. Convicções e ideologias são traços que trazemos conosco, de
acordo com nossa visão de mundo.
É
bom quando dialogamos, questionamos, argumentamos. São exercícios que devem ser
feitos. O Brasil ainda é uma nação neófita em termos de democracia. O rio Negro
e o rio Solimões podem até não se misturar. Porém, o Encontro das Águas só é belo
porque eles não se anulam. Mesmo com diferenças, ambos correm juntos, rumo ao
oceano.
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