sexta-feira, 24 de outubro de 2014

Os rios

Por Mayanna Velame
 
 


Aqui, pelas bandas do lugar onde moro, existem dois rios chamados de Negro e de Solimões. O primeiro é celebrado por suas águas escuras – em virtude da alta concentração de ácidos húmicos e fúlvicos, provenientes da decomposição do húmus do solo que escoa para o rio. Em consequência disso, o Negro é conhecido como um rio “pobre” (pois ele quase não oferece alimento aos peixes). 
 
 
Já o segundo tem como característica uma água barrenta e turva, com aparência lamacenta. Diferente do Negro, o Solimões possui pouco material orgânico. E, com isso, sua acidez é menor – o que o torna propício para a pesca, os esportes e as pesquisas. 
 
 
Eles são rios bem distintos: seja no teor, na química que os compõem, na tonalidade de suas cores, na temperatura. No entanto, as diferenças não impedem a formação do renomado Encontro das Águas, que recebe o nome de rio Amazonas. 
 
 
Várias explicações são dadas ao fenômeno. O Solimões é mais ligeiro e leve. Por isso, suas águas não se misturam com as do rio Negro. Contudo, não nos surpreende as questões e as explicações da ciência (em relação a esse extraordinário acontecimento). O que nos encanta é a generosidade da natureza. 
 
 
O Negro e o Solimões não se excluem, não se agridem, não se devoram. Cada um sabe seu lugar. Cada um respeita o espaço de suas respectivas águas. 
 
 
O Brasil precisa aprender mais com a natureza. Podemos não ter a mesma “química de ideias” e opiniões, mas respeito – num país que se diz amistoso e simpático – é essencial. As últimas eleições mostraram comportamentos intolerantes e preconceituosos de eleitores. Votar no candidato A, B ou C não nos faz melhor ou pior que ninguém. Convicções e ideologias são traços que trazemos conosco, de acordo com nossa visão de mundo. 
 
 
É bom quando dialogamos, questionamos, argumentamos. São exercícios que devem ser feitos. O Brasil ainda é uma nação neófita em termos de democracia. O rio Negro e o rio Solimões podem até não se misturar. Porém, o Encontro das Águas só é belo porque eles não se anulam. Mesmo com diferenças, ambos correm juntos, rumo ao oceano.

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