sexta-feira, 6 de junho de 2014

Paradoxos

Por Mayanna Velame
 
 
 
Pessoas que nascem no Norte do Brasil convivem, diariamente, com temperaturas altas e escaldantes. Não é novidade alguma vivenciar tardes ensolaradas, contemplar um céu infinitamente azul e sentir, em todas as extremidades do corpo, 35° ou 40° graus penetrando em cada poro.
 
Esse calor é explicado em virtude do território nortista ser atravessado pela Faixa Equatorial – considerada a zona mais quente do planeta. Quentura essa que, muitas vezes, chega a ser insuportável e incômoda (mesmo que estejamos acostumados a ela).
 
Entre meridianos, trópicos e paralelos, há chuva e sol. O inverno é o período que, pessoalmente, mais me atrai – embora aqui, no “andar de cima do país”, as quatro estações não sejam bem definidas. Por esse motivo, sempre que posso, dou uma fugidinha e me recolho nas temperaturas baixas.
 
Devo concordar que o verão transparece alegria e diversão. Mas acontece que o tempo frio me traz calmaria e introspecção. Época propícia para ler um bom livro, escrever, e refugiar-se entre montanhas e serras.
 
É por isso que, na Literatura Romântica, a natureza é vista como a extensão do eu. Se a personagem vive dias de verão, é sinal que ela está feliz. Agora, se é inverno, momentos de análises, conflitos existenciais e tormentos estão em seu enredo.
 
Felicidade e melancolia, assim como o inverno e o verão, são dois polos da vida. Dificilmente suportaríamos viver todos os nossos dias enjaulados, em tempestades de desalento. E também creio que jamais gostaríamos de permanecer iludidos, com falsos e momentâneos verões.
 
A verdade é que vivemos em paradoxos: se sentimos frio, logo pedimos calor; se estamos casados, queremos nos comportar como solteiros; se temos trabalho, reclamamos do chefe; se estamos na escassez, lamentamos a falta de dinheiro. Nunca estamos verdadeiramente satisfeitos. Seres humanos são dotados de contradições. E são as oposições da vida que nos fazem crescer (e refletir) sobre nosso modo de agir (e pensar).
 
Por essa razão, se o céu da minha vida efêmera está carregado de nuvens cinzentas e pesadas, penso que há um Sol oculto – esperando o tempo certo para despontar, majestoso, no horizonte. 
 
Mas se o tempo está aberto e claro, pondero que é bom preparar o guarda-chuva e um agasalho. Porque chuvas de desilusão sempre respigarão em nosso jardim.
 

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