Por Mayanna Velame
Pessoas que nascem no Norte do Brasil convivem,
diariamente, com temperaturas altas e escaldantes. Não é novidade alguma
vivenciar tardes ensolaradas, contemplar um céu infinitamente azul e sentir, em
todas as extremidades do corpo, 35° ou 40° graus penetrando em cada poro.
Esse calor é explicado em virtude do território nortista
ser atravessado pela Faixa Equatorial – considerada a zona mais quente do
planeta. Quentura essa que, muitas vezes, chega a ser insuportável e incômoda (mesmo
que estejamos acostumados a ela).
Entre meridianos, trópicos e paralelos, há chuva e sol. O
inverno é o período que, pessoalmente, mais me atrai – embora aqui, no “andar
de cima do país”, as quatro estações não sejam bem definidas. Por esse motivo, sempre
que posso, dou uma fugidinha e me recolho nas temperaturas baixas.
Devo concordar que o verão transparece alegria e
diversão. Mas acontece que o tempo frio me traz calmaria e introspecção. Época
propícia para ler um bom livro, escrever, e refugiar-se entre montanhas e
serras.
É por isso que, na Literatura Romântica, a natureza é
vista como a extensão do eu. Se a personagem vive dias de verão, é sinal que
ela está feliz. Agora, se é inverno, momentos de análises, conflitos
existenciais e tormentos estão em seu enredo.
Felicidade e melancolia, assim como o inverno e o verão,
são dois polos da vida. Dificilmente suportaríamos viver todos os nossos dias
enjaulados, em tempestades de desalento. E também creio que jamais gostaríamos de
permanecer iludidos, com falsos e momentâneos verões.
A verdade é que vivemos em paradoxos: se sentimos frio,
logo pedimos calor; se estamos casados, queremos nos comportar como solteiros;
se temos trabalho, reclamamos do chefe; se estamos na escassez, lamentamos a
falta de dinheiro. Nunca estamos verdadeiramente satisfeitos. Seres humanos são
dotados de contradições. E são as oposições da vida que nos fazem crescer (e
refletir) sobre nosso modo de agir (e pensar).
Por essa razão, se o céu da minha vida efêmera está carregado
de nuvens cinzentas e pesadas, penso que há um Sol oculto – esperando o tempo
certo para despontar, majestoso, no horizonte.
Mas se o tempo está aberto e claro, pondero que
é bom preparar o guarda-chuva e um agasalho. Porque chuvas de desilusão sempre
respigarão em nosso jardim.
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