sábado, 7 de junho de 2014

A Missão

Por Meriam Lazaro
 
 


Todo bonitão, após loção de barba, pego a carteira e na porta decido: elevador ou escada? Como não há ninguém no elevador nessa hora vou de escadas, corro o risco de encontrar dona Dolores e seu Enrico de portas abertas a tomar um mate. Qual nada, meus vizinhos não estão em casa. 
 
Na portaria seu Lidugero vigia há cinco anos nosso entra e sai. - Como vai seu Bento? - ele me pergunta. - Bem e o seu pessoal? - Ao que ele me responde com riqueza de detalhes, que lhes poupo aqui senão passa do espaço do conto. Outro dia, quem sabe... 
 
Passo pelo ponto de ônibus, que pena! Dona Quitéria, da faxina do prédio, não veio nesse. Queria saber do seu Manuel, portuga de quem se separou por três vezes após tentar alvejá-lo com uma caçarola com óleo quente. 
 
Que dia sem esplendor, pelo visto. Não, não posso dizer isto. Vejo no céu as nuvens rosadas que minha mãe chamava de rabo-de-galo, sinal de geada naqueles tempos. Saudade da grande quantidade de atividades que tinha para fazer durante o dia, 24 horas não dava para nada. 
 
Chego então ao meu destino e eis que vejo fartura. Uma fila de conhecidos no balcão, todos me cumprimentam efusivamente, vejo dona Dora fazendo as contas à mão como sempre fez, a moça do caixa olhando desconfiada para o papel pardo, mãos que alcançam embrulhos, dedos que indicam quantidade de pãezinhos. Cedo a vez a quem vai chegando e vou sempre ficando no final da fila para conversar com todos e valorizar... Opa! Eis que do nada chega minha neta adolescente, linda e valente como uma Anita histórica e, de botas e mãos em bule, me passa um pito: 
 
- Vovó disse que faz duas horas que o senhor saiu para vir aqui na padaria buscar o pão e o leite! 
 

Um comentário :

  1. A narrativa com sua riqueza de detalhes diz bem o comportamento de um vovó; Muito bom, beijo de zélia

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