Por Meriam Lazaro
Todo bonitão,
após loção de barba, pego a carteira e na porta decido: elevador ou escada?
Como não há ninguém no elevador nessa hora vou de escadas, corro o risco de
encontrar dona Dolores e seu Enrico de portas abertas a tomar um mate. Qual
nada, meus vizinhos não estão em casa.
Na portaria seu
Lidugero vigia há cinco anos nosso entra e sai. - Como vai seu Bento? - ele me
pergunta. - Bem e o seu pessoal? - Ao que ele me responde com riqueza de
detalhes, que lhes poupo aqui senão passa do espaço do conto. Outro dia, quem
sabe...
Passo pelo ponto
de ônibus, que pena! Dona Quitéria, da faxina do prédio, não veio nesse. Queria
saber do seu Manuel, portuga de quem se separou por três vezes após
tentar alvejá-lo com uma caçarola com óleo quente.
Que dia sem
esplendor, pelo visto. Não, não posso dizer isto. Vejo no céu as nuvens rosadas
que minha mãe chamava de rabo-de-galo, sinal de geada naqueles tempos. Saudade
da grande quantidade de atividades que tinha para fazer durante o dia, 24 horas
não dava para nada.
Chego então ao
meu destino e eis que vejo fartura. Uma fila de conhecidos no balcão, todos me
cumprimentam efusivamente, vejo dona Dora fazendo as contas à mão como sempre
fez, a moça do caixa olhando desconfiada para o papel pardo, mãos que alcançam
embrulhos, dedos que indicam quantidade de pãezinhos. Cedo a vez a quem vai
chegando e vou sempre ficando no final da fila para conversar com todos e
valorizar... Opa! Eis que do nada chega minha neta adolescente, linda e valente
como uma Anita histórica e, de botas e mãos em bule, me passa um pito:
- Vovó disse que
faz duas horas que o senhor saiu para vir aqui na padaria buscar o pão e o
leite!
A narrativa com sua riqueza de detalhes diz bem o comportamento de um vovó; Muito bom, beijo de zélia
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