Por Amilcar Neves*
A função
de uma feira do livro é obvia: vender livros. Assim como, numa feira de gado, o
objetivo é vender gado. Numa feira de informática, vender equipamentos,
acessórios, aplicativos e serviços. Uma feira de informática, pois, já não
vende apenas computadores e assemelhados. Vende também ideias, conceitos,
treinamento, desejos e expectativas, ou seja, amarra o seu consumidor e busca
incessantemente cativar novos clientes. De início não se fala em marcas, mas em
segmentos de mercado. O mais importante é que haja gente querendo comprar
computadores. Ou portáteis, ou leitores de livros, ou tabuletas, ou telefones
expertos. Gerada essa vontade incontrolável de possuir algo novo, moderno,
recente, maravilhoso, passa-se à segunda etapa do processo: a competência das
marcas intimamente relacionada aos preços de venda, que são os valores que se
está disposto a pagar. Aqui já estamos falando do papel da feira de
informática.
Com os livros
não é diferente do que com o gado e os eletrônicos.
A própria feira
de gado não vende apenas gado. Reses talvez nem sejam a maior parte dos
negócios. Feira de gado que se preze venderá vacinas, remédios, unguentos,
inseticidas, carrapaticidas, serviços veterinários, técnicas de inseminação
artificial, de aumento da produção do leite e de incremento da geração de
carne; venderá equipamentos para tratar do gado e explorar suas
potencialidades, venderá formas de organização da produção, tecnologias de
abate e de manejo, promoverá tantas palestras quantas puder sobre todos os
aspectos envolvidos na atividade vacum, trará - pagando bem e oferecendo todo
conforto possível, mesmo para gente da terra onde se realiza a feira -
especialistas e conhecedores renomados, vaqueiros e fazendeiros experimentados,
professores e pesquisadores gabaritados que arrebatarão pequenas multidões para
suas falas, seminários, oficinas, mesas-redondas, palestras, conferências,
demonstrações, colóquios, cafés da manhã e papos de corredor, tudo no sentido
de enfeitiçar mais e mais gente com as belezas, inclusive as financeiras, do
trato com esse tipo de bicho.
Com os livros
não é diferente do que com o gado e os eletrônicos.
Sexta-feira
passada estive em Joinville para participar de reunião do Grupo Gestor do Fórum Catarinense do Livro e da Leitura. O encontro se deu na sala de reunião da Reitoriabda Univille. Univille é a Universidade da Região de Joinville. Estava presente gente da Universidade, do ProLer Joinville e da Biblioteca Pública Municipal Rolf Colin. A justificativa era uma: muita gente não pôde comparecer porque estava superenvolvida com a Feira do Livro da cidade.
A caminho de lá,
no rádio do carro a Udesc FM Joinville "tocava" uma longa entrevista
com Luiz Carlos Lacerda, cineasta e poeta carioca, um dos convidados da feira
onde mais tarde palestraria e autografaria. Udesc é a Universidade do Estado de
Santa Catarina, com campus ao lado da Univille.
Na feira, foi
possível comprar livros de qualidade por preços extremamente convincentes. Algo
como 3 livros por dez reais. A Taça de Ouro, de Henry James, ou 35 Noites de Paixão, de Dalton
Trevisan, não serão obras dignas de uma boa estante? Ou O Dia em que Getúlio Matou Allende, de Flavio Tavares, e Péricles, Príncipe de Tiro, de William Shakespeare, a dez reais cada, serão coisas de jogar fora? Isto é a função de uma feira do livro.
Seu papel,
difundir o prazer imenso da leitura e seduzir perdidamente novos leitores.
*
Crônica publicada no jornal "Diário Catarinense" de 16.04.14
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