quinta-feira, 19 de junho de 2014

A função e o papel de uma feira do livro

Por Amilcar Neves*



A função de uma feira do livro é obvia: vender livros. Assim como, numa feira de gado, o objetivo é vender gado. Numa feira de informática, vender equipamentos, acessórios, aplicativos e serviços. Uma feira de informática, pois, já não vende apenas computadores e assemelhados. Vende também ideias, conceitos, treinamento, desejos e expectativas, ou seja, amarra o seu consumidor e busca incessantemente cativar novos clientes. De início não se fala em marcas, mas em segmentos de mercado. O mais importante é que haja gente querendo comprar computadores. Ou portáteis, ou leitores de livros, ou tabuletas, ou telefones expertos. Gerada essa vontade incontrolável de possuir algo novo, moderno, recente, maravilhoso, passa-se à segunda etapa do processo: a competência das marcas intimamente relacionada aos preços de venda, que são os valores que se está disposto a pagar. Aqui já estamos falando do papel da feira de informática.

Com os livros não é diferente do que com o gado e os eletrônicos.

A própria feira de gado não vende apenas gado. Reses talvez nem sejam a maior parte dos negócios. Feira de gado que se preze venderá vacinas, remédios, unguentos, inseticidas, carrapaticidas, serviços veterinários, técnicas de inseminação artificial, de aumento da produção do leite e de incremento da geração de carne; venderá equipamentos para tratar do gado e explorar suas potencialidades, venderá formas de organização da produção, tecnologias de abate e de manejo, promoverá tantas palestras quantas puder sobre todos os aspectos envolvidos na atividade vacum, trará - pagando bem e oferecendo todo conforto possível, mesmo para gente da terra onde se realiza a feira - especialistas e conhecedores renomados, vaqueiros e fazendeiros experimentados, professores e pesquisadores gabaritados que arrebatarão pequenas multidões para suas falas, seminários, oficinas, mesas-redondas, palestras, conferências, demonstrações, colóquios, cafés da manhã e papos de corredor, tudo no sentido de enfeitiçar mais e mais gente com as belezas, inclusive as financeiras, do trato com esse tipo de bicho.

Com os livros não é diferente do que com o gado e os eletrônicos.

Sexta-feira passada estive em Joinville para participar de reunião do Grupo Gestor do Fórum Catarinense do Livro e da Leitura. O encontro se deu na sala de reunião da Reitoriabda Univille. Univille é a Universidade da Região de Joinville. Estava presente gente da Universidade, do ProLer Joinville e da Biblioteca Pública Municipal Rolf Colin. A justificativa era uma: muita gente não pôde comparecer porque estava superenvolvida com a Feira do Livro da cidade.

A caminho de lá, no rádio do carro a Udesc FM Joinville "tocava" uma longa entrevista com Luiz Carlos Lacerda, cineasta e poeta carioca, um dos convidados da feira onde mais tarde palestraria e autografaria. Udesc é a Universidade do Estado de Santa Catarina, com campus ao lado da Univille.

Na feira, foi possível comprar livros de qualidade por preços extremamente convincentes. Algo como 3 livros por dez reais. A Taça de Ouro, de Henry James, ou 35 Noites de Paixão, de Dalton Trevisan, não serão obras dignas de uma boa estante? Ou O Dia em que Getúlio Matou Allende, de Flavio Tavares, e Péricles, Príncipe de Tiro, de William Shakespeare, a dez reais cada, serão coisas de jogar fora? Isto é a função de uma feira do livro.

Seu papel, difundir o prazer imenso da leitura e seduzir perdidamente novos leitores.

* Crônica publicada no jornal "Diário Catarinense" de 16.04.14

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