Por Mayanna
Velame
Gosto muito
desse clima de Copa do Mundo. Mesmo que a nossa seja alvo de críticas – muitas
das vezes exageradas e sem fundamentos. Mas, nesta crônica, não vou utilizar as
palavras para protagonizar discursos hipócritas e pseudo-patrióticos.
Prefiro me
refugiar à memória e recordar a Copa de 1986, quando esta cronista tinha apenas
três aninhos de idade. Na época, viajei com minha mãe e meu irmão ao Rio de
Janeiro, para uma temporada de um mês. A cidade maravilhosa rendia-se a um
rigoroso inverno. Para mim, que sou do Norte do país, era gostoso sentir aquele
vento gélido roçar minhas bochechas e afagar meus cabelos.
Lembro-me
de correr, que nem uma desventurada, pelas calçadas da Praça Saens Peña.
Sorrindo, eu espantava os pombinhos e me deliciava com pipocas e amendoins
torrados. Melhor que isso era poder contemplar o pôr do sol, na Praia da Urca.
Passear de braços dados com mamãe e vovó, enquanto meus olhos miúdos observavam
as bandeirolas, com as cores da bandeira nacional, sobressaindo-se entre o céu
cinzento da capital fluminense. O Rio de Janeiro lindo, na percepção de uma
criança.
Mas o ápice
se dava na hora de assistir aos jogos, na casa de minha avó. A cada partida, o
coração era testado; a cada jogo ganho, alívio, euforia. Vovó rezava,
apegava-se a todos os santos, ao Papa e a Deus. Orava o Pai-Nosso, a Ave-Maria
e tudo mais que podia. Eu apenas a esquadrinhava. Não entendia nada de futebol,
mas conseguia absorver aquela atmosfera, que somente uma Copa do Mundo causa
naqueles que a apreciam.
Para
comemorar, vovó satisfazia os desejos do nosso estômago, com guloseimas
intermináveis. Milho cozido sempre foi a minha pedida. Momentos únicos que a
memória guarda – e registra com recortes. Momentos como uma partida de um
mundial. Inesquecíveis recordações que ecoam na mente, como um grito de gol.
Em 1986, o
Brasil não ganhou a competição. Tristeza geral para todos. Inclusive para vovó,
que não conseguiu esconder suas lágrimas. Quanto a mim, eu ocultei a melancolia
de ter que voltar para Manaus.
Não haveria
mais Corcovado, Cristo Redentor, Copacabana, bondinhos, Praia da Urca. E muito
menos haveria vovó, com suas rezas e promessas. No entanto, restaram essas
lembranças (imortalizadas como grandes finais, numa Copa do Mundo).
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